Aos 24 anos faz Erasmus no Porto, vindo de Espanha, gosta de tocar guitarra e de cantar. A descrição poderia ser aplicada a muitos, não fosse Siwar Ala um curdo sírio à procura de asilo político em Espanha.
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Este curdo, nascido numa Síria que se encontra em ebulição, reconheceu à agência Lusa ter tido «mais sorte do que outras pessoas, que foram torturadas e mortas», apesar de ter deixado quase toda a família para trás, desde que, em 2008, conseguiu abandonar a Síria para ir estudar para território espanhol, onde tem um tio.
Os curdos são a minoria mais populosa da Síria, composta por cerca de 2,5 milhões de pessoas, a maioria dos quais muçulmanos sunitas, um terço dos quais a viver a norte de Aleppo, de acordo com a organização Minority Rights Group International.
No entanto, os curdos têm sido perseguidos não só na Síria, mas também nos restantes países do chamado Curdistão (Turquia, Iraque e Irão), sendo proibida a utilização do seu idioma curdo, com 80 por cento da população a viver abaixo da linha da pobreza, segundo um relatório do Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros.
«Somos a maior Nação do Mundo sem um país, sem um Estado, sem direitos, sem nada. É a nossa terra e não podemos falar no nosso idioma. O meu irmão não sabe falar curdo», disse Siwar.
Siwar Ala é um ativista pelos direitos humanos na Síria, que dava aulas de curdo na Universidade de Aleppo, onde também estudava Bioquímica. Relatou ter sido perseguido pela polícia secreta síria, o que fez com que tivesse sido expulso da escola, a gota de água antes de abandonar o país.
«Para mim, o Porto é um ponto de descanso e, ao mesmo tempo, um ponto de mais ativismo, porque aqui sinto-me feliz, sinto que o Porto me dá a inspiração. Estar aqui tem sido algo muito bonito e creio que vai ficar sempre no meu coração. Se puder ficar aqui, fico», confessa o jovem curdo, que procura trabalho para poder permanecer no país.
Os papéis para o pedido de asilo político já foram preenchidos em Madrid e Siwar espera ter uma resposta, positiva, até ao Verão, depois dos muitos problemas que afirma ter atravessado em termos de documentos: «É triste e ao mesmo tempo engraçado. Na Síria sou curdo, então sou de segunda classe. E na Europa sou sírio, então chegas a um momento e pensas: 'Onde é que tenho que viver? Noutro planeta?'»
Não voltou à Síria desde 2008, respondendo rapidamente que seria morto se regressasse ao país que ainda acolhe os pais e o irmão, com quem fala quando pode, através da Internet.
Quanto ao tratamento que tem recebido no estrangeiro, Siwar quer contar as histórias em livro: «Vocês são estrangeiros para mim, mas os estrangeiros tratam-me melhor do que na Síria. Este mundo funciona ao contrário. Na universidade os professores são muito bons, os companheiros, as pessoas na rua, especialmente os portugueses e isso estou a contar a todo o mundo».