Um planeta, oito mil milhões de pessoas. "A dimensão ótima de uma população é aquela que pode viver num país com dignidade"
A Ásia e África são os continentes que permanecem como o berço do nosso planeta, mas onde dezenas de países enfrentam inúmeros desafios para garantir a sobrevivência das suas populações. Mónica Ferro, do Fundo das Nações Unidas para as Populações, defende que os países devem apostar "em direitos e escolhas".
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Às 9h00 em Lisboa, as Nações Unidas estimam que, algures na Terra, nasça o bebé oito mil milhões. O nosso planeta passa a ser agora a casa de oito mil milhões de humanos. A China continua a ser o país mais populoso do mundo, mas a Índia prepara-se para atingir a liderança em termos populacionais já no próximo ano. Oito mil milhões de humanos é um número simbólico, como referem os especialistas, e pode ser interpretado pelo lado positivo e negativo.
"Atingir este marco em simultâneo é uma razão para celebrar, mas é também um apelo para que a humanidade em conjunto encontre soluções para os problemas que enfrentamos, mas não deixa de ser uma razão de celebração. De facto, alguns de nós, quando pensam em oito mil milhões de pessoas não vão deixar de se maravilhar na área da saúde, que nos permitem viver mais e melhor, com a redução das taxas de mortalidade materno-infantil, o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde", refere à TSF Mónica Ferro, diretora do escritório de Genebra do Fundo das Nações Unidas para a População.
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Além dos aspetos positivos enumerados, por outro lado, há razões para a humanidade estar em alerta face aos desafios que enfrenta. Para Mónica Ferro, quem sofre são as populações mais vulneráveis. "É importante assinalar que este progresso é profundamente desigual com algumas desigualdades indescritíveis. As mulheres ainda morrem a dar à luz. Mais de 800 todos os dias morrem de causas preveníveis ligadas à gravidez, parto ou pós-parto, as desigualdades de género persistem e afundam-se com a pandemia Covid-19, os gaps digitais ainda deixam offline milhões de mulheres e de pessoas que vivem nos países em desenvolvimento", lembra.
"A verdade é que sempre que a humanidade se aproxima do marco do mil milhão a pergunta é sempre a mesma. Que desafios temos daqui para a frente, como é que podemos empoderar as pessoas, sobretudo aquelas que estão mais marginalizadas e em situação de vulnerabilidade", questiona a responsável do Fundo das Nações Unidas para a População.
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"A dimensão ótima de uma população é aquela que pode viver num país com dignidade"
No momento em que a humanidade atinge os oito mil milhões, Mónica Ferro entende que os países devem aproveitar as "oportunidades" e fala em "resiliência demográfica". "Os países têm de ser capazes de perceber e até de antecipar estas dinâmicas populacionais que vão vivendo porque estamos a falar de ciclos longuíssimos. E têm de garantir que têm as competências, as ferramentas e a vontade política e também o apoio da sua população para lidar com elas", lembra Mónica Ferro, sublinhando que o "que os países podem fazer para mitigar os efeitos potencialmente negativos para os seus indivíduos e para as suas sociedades e realmente aproveitar as oportunidades que vêm com estas alterações demográficas e garantir a prosperidade, é ter estes números em consideração e planear o seu desenvolvimento".
Mónica Ferro assinala ainda à TSF que, "seja qual for o ponto de partida, as políticas não devem ser feitas negando os direitos das pessoas, os seus direitos de autonomia, de decidirem se querem constituir família, o tamanho das suas famíias. Essas são decisões que são pessoais. A ideia de autonomia corporal está profundamente alicerçada nos direitos humanos e os países têm que alavancar esta ideia e, portanto, não há fórmulas mágicas. O que há e deve haver é uma aposta grande em direitos e escolhas".
A grande ameaça
A humanidade chega ao marco dos oito mil milhões numa altura em que no Egito, os líderes mundiais tentam chegar a um consenso sobre o que fazer perante aquela que é a maior ameaça à sobrevivência das gerações futuras: as alterações climáticas.
Em declarações à TSF, a partir de Sharm el-Sheik, onde está a participar na COP27, Mónica Ferro sublinha que a crise climática "é o desafio da nossa geração". Na conferência onde o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou o mundo que estamos a caminhar para o "inferno climático", a responsável do Fundo para as Populações assistiu de perto a casos muito claros onde esta crise já está a ter um impacto "desproporcional sobre as mulheres, sobre as raparigas e sobre outras populações que já estão em situações de vulnerabilidade"
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A Ásia e África são os continentes que permanecem como o berço do nosso planeta, mas onde dezenas de países enfrentam inúmeros desafios para garantir a sobrevivência das suas populações.
