Dezoito dias depois de o monarca Muhammad V ter abdicado do trono, uma conferência de governadores, em Kuala Lumpur, vai eleger o novo rei. É a primeira vez que isto acontece nos 60 anos de independência do país.
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Ninguém sabe ao certo porque é que Muhammad V decidiu deixar o trono, a três anos do final do mandato. O rei, de 49 anos, tinha assumido o cargo apenas em 2017.
Várias justificações foram avançadas pela imprensa, mas oficialmente não se conhecem as razões para a decisão. Há quem fale de problemas de saúde, já que o rei esteve de baixa desde novembro, só regressando ao exercício de funções no primeiro dia de janeiro. Outros avançam a noticia do casamento secreto de Muhammad V com uma russa de 25 anos, antiga Miss Moscovo. O palácio real recusa-se, no entanto, a fazer qualquer comentário.
Muhammad V foi o mais jovem monarca a assumir funções desde a independência do país. Educado em Inglaterra, sucedeu ao pai como Sultão de Kelantan, quando este sofreu um AVC. O agora ex-monarca gosta de desportos radicais como corridas de resistência e provas de todo o terreno. É conhecido pela cordialidade e também pelo sentido de humor.
Pouco depois de ter abdicado, um politico malaio elogiou-o pelo papel que teve na consolidação da democracia e por ter garantido uma transição pacifica e ordeira quando o partido que governava o país há 30 anos perdeu as eleições.
A Malásia tem um sistema de monarquia constitucional em que o Rei é eleito (neste momento no mundo há apenas mais um caso: o Camboja onde o rei é escolhido entre vários candidatos de sangue real). Os sultões que governam, por linha hereditária, nove Estados são escolhidos para serem o rei dos reis (Agong) pelo período de 5 anos. Os outros quatro Estados estão a cargo de dirigentes que integram a conferência de governadores, mas não podem eleger ou ser eleitos.
A lei estabelece uma rotatividade fixa entre os nove sultões. Desde 1957, a ordem seguida determinou que se começasse primeiro pelo Estado de Negeri, seguido por Selangor, Perlis, Terengganu, Kedah, Kelantan, Pahang, Johor e Perak. A lógica seria a do tempo em funções, mas o sultão Ibrahim de Johor recusou a eleição por causa da idade: tinha 84 anos. Seguia-se Abu Bakar de Pahang, mas a conferência não aceitou elegê-lo. O primeiro rei da Malásia moderna foi então Abdul Rahman, de Negeri, que era sultão desde 1933.
Se a ordem for respeitada, depois de Muhammad V, de Kelantan, será a vez do Estado de Pahang. A Constituição prevê, no entanto, que um Estado seja transferido para o fim da lista quando um novo sultão assume funções. Foi o que aconteceu em Pahang, já que o sultão Abdullah foi proclamado apenas no dia 15 deste mês. A decisão final fica ao critério da conferência de governadores.
Neste momento, o cargo está a ser ocupado pelo vice-rei Nazrin Shah, de Perak (também ele eleito), terceiro na linha de sucessão. Depois da eleição, o novo monarca entra em funções no dia 31 de janeiro.
As funções do rei são maioritariamente cerimoniais, já que o Parlamento e o primeiro-ministro têm o monopólio do poder legislativo. As competências da monarquia foram reduzidas durante a década de 1990 através de alterações constitucionais. O Agong deixou de poder vetar legislação e a imunidade legal foi reduzida a casos muito específicos. Atualmente, o rei é visto, principalmente como o garante do Islão numa Malásia de maioria muçulmana.