John Walker Lindh foi preso no Afeganistão pouco depois da invasão em 2001. Combateu ao lado dos taliban e foi condenado a 20 anos de cadeia.
Corpo do artigo
A libertação três anos antes do final da pena está a provocar grande polémica nos Estados Unidos. John Lindh tinha 20 anos quando foi preso no Afeganistão. Quatro anos antes, o jovem californiano tinha-se convertido ao islão depois de ver o filme "Malcolm X".
No ano 2000 viajou para o Iémen para aprender a falar árabe e estudar a religião islâmica. Pouco depois estava no Afeganistão, a combater ao lado dos taliban. A mãe garante que John viajou para o Paquistão numa missão humanitária com um grupo radical e acabou por ver-se no país vizinho. Já o pai assegura que o filho se limitou a visitar um país com quem os Estados Unidos tinham relações diplomáticas.
O facto é que ele entrou no Afeganistão antes do 11 de setembro, mas no dia em que os Estados Unidos foram atacados já estava a combater ao lado dos extremistas. Antes disso, tinha passado por campos de treino da Al-Qaeda, onde viu e falou com Osama Bin Laden.
Quando foi preso, John estava ferido numa perna e recebeu de imediato tratamento médico. Filmado pela CNN enquanto estava a ser tratado, o jovem disse que tinha encontrado no Afeganistão exatamente aquilo que procurava.
Na altura, o procurador-geral dos Estados Unidos defendeu publicamente que John Lindh se tinha associado de livre vontade aos extremistas para combater ao lado de inimigos do país. "Não foram os terroristas que forçaram o John Walker, foi ele que os escolheu", acrescentou John Ashcroft.
O taliban americano, como ficou conhecido, foi transportado para um campo de prisioneiros onde foi interrogado pelo agente da CIA Johnny Michael Spann. Estava na prisão da cidade de Mazar-i-Sharif, no norte do país, durante uma revolta sangrenta em que Spann, de 32 anos, foi morto pelos prisioneiros. Lindh foi encontrado com outros presos na cave da cadeia, segundo relatos do FBI.
John Lindh foi levado para os Estados Unidos e acusado de crimes que poderiam ter resultado numa sentença de prisão perpétua. Os promotores, no entanto, não conseguiram provar que ele tinha participado no motim que causou a morte do agente da CIA. Num acordo judicial, Lindh admitiu ter lutado ao lado dos taliban e acabou por ser condenado a 20 anos de prisão.
Durante a leitura da sentença, o jovem terá dito que não se teria juntado aos taliban se tivesse percebido o que eles eram. Mais tarde publicou um texto em que condenava toda a violência desencadeada em nome do Islão. Em 2017, um documento do Centro Nacional de Contraterrorismo, divulgado pela revista Foreign Policy, dizia no entanto que, em 2016, Lindh continuava a defender a Jihad global e a escrever e traduzir textos extremistas e violentos.
Agora, ao fim de 17 anos de cadeia, o taliban americano saiu da prisão de Terre Haute, no Indiana, mas sujeito a rigorosas restrições, pelo menos nos próximos três anos. Estará proibido de ter qualquer dispositivo com acesso à internet sem a permissão do agente de liberdade condicional. Se obtiver essa permissão, o dispositivo será continuamente vigiado. Lindh não vai poder ter qualquer comunicação online num idioma que não seja o inglês e não pode visualizar material que reflita visões extremistas ou terroristas. Vai ainda ser obrigado a ter aconselhamento de saúde mental. Por fim, não pode ter um passaporte emitido por outro país ou deixar os EUA sem permissão do tribunal - na cadeia, o jovem aproveitou o facto de a mãe ser Irlandesa para adquirir essa nacionalidade.
A família de Johnny Michael Spann tem sido uma das maiores opositoras a esta libertação. No início da semana apresentou no tribunal federal uma carta pedindo uma investigação às atividades de Lindh na cadeia. A família alega que os documentos do Centro Nacional de Contraterrorismo apontam para a possibilidade de Lindh ter violado os termos do acordo judicial.
O pai de Spann desabafou ao New York Times que "estamos perante um traidor que recebeu 20 anos e não posso fazer nada quanto a isso. Recebeu esta sentença quando deveria ter sido prisão perpétua". Numa carta enviada ao Presidente Donald Trump, a filha do antigo agente da CIA, Alison, escreveu que "sente esta libertação antecipada como uma bofetada. Ele é um traidor".
Vários senadores também se mostraram preocupados, entre eles Richard Shelby, republicano do Alabama, e Margaret Hassan, democrata de New Hampshire, que numa carta enviada aos serviços prisionais pediram mais informações sobre as medidas que o Governo tomou para garantir a segurança pública.
Oficialmente as autoridades federais ainda não revelaram qual a razão para John Walker Lindh ser autorizado a sair da cadeia três anos antes do final de sentença.