A decisão foi tomada esta quarta-feira numa reunião na China. O organismo da ONU justificou a decisão com o facto de o desenvolvimento dos últimos anos ter afetado o valor das docas vitorianas.
Corpo do artigo
O estatuto de Património Mundial foi atribuído à cidade em 2004 por representar o exemplo de um porto comercial da época de maior influência da Grã-Bretanha no mundo.
Na altura, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) considerou que os edifícios e estruturas do porto e da cidade são um testemunho excecional da cultura mercantil. Salientando que Liverpool desempenhou um papel importante ao influenciar as mudanças demográficas globalmente significativas dos séculos XVIII e XIX, com o envolvimento no comércio transatlântico de escravos e como principal porto de emigração europeia para o Novo Mundo.
Desde 2012 que o estatuto de Liverpool estava ameaçado por causa do desenvolvimento imobiliário. A UNESCO considerou que o horizonte da cidade tinha sido significativamente alterado e o valor patrimonial da zona costeira destruído. Em causa estavam novos edifícios e projetos como o do estádio do Everton, que vai começar ser construído este ano, junto ao rio Mersey, e está avaliado em quase 600 milhões de euros.
Desde essa altura, não foram feitas mudanças e os projetos mais polémicos continuaram a avançar causando danos irreversíveis na cidade.
Esta é a terceira vez que a UNESCO retira o estatuto de Património Mundial a um local. O primeiro foi em 2007, o Santuário do Oryx em Omã, que é o habitat de uma espécie rara de antílope. O local perdeu o estatuto depois de Omã ter decidido reduzir em 90% a zona protegido, o que, segundo a UNESCO, destruiu o valor excecional que tinha motivado a distinção.
O segundo foi o Vale do Elba em Dresden, na Alemanha, que foi sancionado pelo organismo da ONU em 2009. A construção de uma ponte com quatro faixas, mesmo no coração do vale, levou à decisão da UNESCO que a justificou com uma quebra no compromisso assumido de manter o extraordinário valor universal do local.
A decisão desta quarta-feira foi recebida com surpresa em Liverpool. A presidente da câmara já admitiu a hipótese de recorrer. Joanne Anderson admitiu ter ficado muito desapontada e preocupada e acusou a UNESCO de não visitar a cidade há uma década.