
Crianças refugiadas num campo improvisado no aeroporto de Atenas.
Simela Pantzartzi/EPA
Desde o início do ano, mais de 7 mil crianças chegaram a Itália sem nenhum familiar adulto. Chegam sozinhas ou com outras crianças.
Corpo do artigo
No relatório "Perigo a cada passo", divulgado esta terça-feira, a organização das Nações Unidas para a infância diz que isto acontece com a esmagadora maioria dos menores que entram na Europa como refugiados.
Para salvaguardar as crianças e as suas trágicas histórias de vida, o relatório da UNICEF não revela os seus verdadeiros nomes.
É o caso de Omar.... que não se chama Omar. Tem 16 anos e chegou à ilha de Lampedusa mais de um ano depois de deixar a Somália, o país natal.
Fugiu para não ser forçado a combater numa milícia armada. Disse aos técnicos da UNICEF que não se lembra de muita coisa.
Recorda-se de cair nas mãos de traficantes na Líbia, os mesmos que o mantiveram cativo até receberem dinheiro da família.
Omar também se lembra do rosto de tanta gente a desaparecer no mar, quando o segundo barco onde arriscou a travessia, se afundou ao largo de Itália.
Mas o que se lembra melhor é do aparecimento do navio italiano de resgate que o salvou.
Também com 16 anos, Aimano partiu da Gâmbia, com o irmão mais novo. Juntos atravessaram o Senegal, o Mali, o Burkina Faso e o Níger.
Na Líbia, foi feito escravo, numa quinta, onde quem parava para descansar, podia levar um tiro. O mesmo poderia acontecer, se tentasse fugir.
Havia mais espancamentos de escravos do que refeições.
Ao fim do dia, Aimano e dezenas de outras crianças eram trancados até ao dia seguinte. Escapou com ajuda de outros traficantes, mas prefere não dizer como lhes pagou.
Além das histórias registadas, a UNICEF diz que muitas crianças não chegam. Ninguém sabe quantas desaparecem a caminho da Europa, em terra ou no mar, sequestradas ou mortas. Nem quantas desaparecem depois já em solo europeu.
Há raparigas que chegam grávidas de violadores. Raparigas e rapazes contam como foram espancados e obrigados a prostituírem-se ao longo da viagem por terra, como foram tantas vezes espancados por gente de quem nem sabiam o nome.
Até ao final de maio, só do norte de África, chegaram a Itália 7 mil crianças. Juntaram-se a outras 85 mil que estão à espera de um futuro nos centros de acolhimento europeus e às 96 mil que aguardavam no ano passado uma resposta a pedidos de asilo.
Só na região do Sahel há mais de um milhão de pessoas com um plano para este verão. Chegar à Europa.