
Lucas Soares Fontes já tinha conseguido entrar na universidade recorrendo à mesma estratégia
Reprodução: Globo
Lucas queria beneficiar do sistema de quotas brasileiro para afrodescendentes num concurso público para conseguir um trabalho ao qual se estava a candidatar. E arranjou uma estratégia... mas foi desmascarado.
Corpo do artigo
Lucas Soares Fontes queria, por tudo, um lugar no Instituto Nacional do Seguro Social, equivalente à Segurança Social portuguesa. Por isso, concorreu à posição de técnico daquele organismo, na cidade de Além Paraíba, em Minas Gerais, fazendo uso de todas as prerrogativas legais à sua disposição.
Como era negro, tentou aceder ao processo de quotas - um mecanismo do estado brasileiro que visa compensar pessoas com aquele tom de pele por séculos de discriminação.
Lucas tinha, portanto, tudo para obter aquele posto de técnico da segurança social - frequência universitária na Universidade de Juiz de Fora, cidade vizinha a Além Paraíba, e na Universidade do Rio de Janeiro (às quais concorrera também como beneficiário da quota para negros) e a cor da pele. Por isso, ganhou, sem surpresa, a vaga do emprego.
Sucede que a segunda classificada, de pele branca, não ficou convencida e fez uma denúncia à polícia com base numa informação anónima que recebera. A polícia investigou e deu-lhe razão.
Não é que, afinal, Lucas é branco e até tem olhos claros? Nas fotos com que concorreu ao cargo, assim como às universidades citadas, pintara o rosto com tinha castanha e usara lentes de contacto escuras.
O acusado recusou-se a comparecer perante a polícia e alegou que não, que as lentes de contanto falsas eram as azuis, que usava por motivos estéticos, e não as castanhas. Sobre o facto de aparecer branco como a cal na foto da carta de condução não encontrou justificação. E ficou sem a vaga.
O correspondente da TSF em São Paulo, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da rádio a crónica Acontece no Brasil.