Pietro Parolin admite que caso de Théodore McCarrick é o resultado de várias omissões que deram origem a graves consequências.
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O Vaticano nega ter ignorado ou encoberto os abusos sexuais cometidos pelo ex-cardeal norte-americano Théodore McCarrick. A Igreja Católica admite, no entanto, que foram cometidos erros em avaliações de dados imprecisos e incompletos, relacionadas com um dos maiores escândalos da Santa Sé.
O esclarecimento surge na sequência de um relatório da própria Igreja, de 450 páginas, onde se pode ler que vários bispos norte-americanos forneceram informações incompletas e sem exatidão sobre a "má conduta sexual" do cardeal Théodore McCarrick.
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O documento, divulgado pelo Washington Post, destaca, por exemplo, o testemunho do cardeal Pietro Parolin, atual número dois do Vaticano. No seu depoimento diz que nenhum procedimento de tomada de decisão da Igreja "está isenta de erros".
Parolin admite que é o resultado de várias omissões que deram origem a graves consequências.
O relatório, conhecido esta terça-feira, é suportado por quase uma centena de entrevistas, e pela consulta de arquivos, num trabalho que se prolongou por dois anos. O resultado demonstra que o escândalo sexual que abalou a Igreja Católica terá sido abafado pela mais alta hierarquia, incluindo três papas sucessivos.
Em causa estão os rumores sobre os convites do ex-cardeal norte-americano a jovens seminaristas e padres adultos para dividirem a cama consigo.
Os abusos foram divulgados na década de 1990, mas nem mesmo a denúncia de outro cardeal impediu a nomeação de McCarrick para arcebispo de Washington, no final de 2000. Mais tarde, João Paulo II nomeou-o para cardeal.
João Paulo II terá colocado suspeitas de lado
O papa polaco, alertado para a investigação do Vaticano, decidiu pelo influente arcebispo norte-americano, que alegou sempre inocência. A investigação revela agora que, na altura, houve transmissão de informações incompletas.
Anos depois, em 2005, surgiram novas acusações, mais credíveis, sobre ligações sexuais de McCarrick com pessoas adultas. O Papa alemão Bento XVI pediu então ao arcebispo de Washington que se aposentasse no ano seguinte, com mais de 75 anos de idade.
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A Santa Sé optou por não efetuar qualquer julgamento, pela ausência de vítimas menores. Ainda assim, em 2017 o escândalo renasceu, com a primeira denúncia por agressão sexual revelada por um homem com 16 anos.
Com a aprovação do Papa Francisco deu-se início a uma investigação, com McCarrick a perder o título de cardeal.
Papa Francisco abriu um processo de investigação
No outono de 2018, o Papa Francisco prometeu fazer uma investigação completa sobre os atos praticados por McCarrick, que, durante a sua carreira religiosa, foi bispo de Nova Iorque, Metuchen e Newark.
Desde então, as associações de defesa das vítimas de abuso sexual por parte de padres não deixaram de exigir conclusões à hierarquia da Igreja Católica.
O relatório sobre a carreira do cardeal norte-americano chegou a motivar duras críticas do prelado ultraconservador italiano Carlo Maria Vigano, que pediu ao Papa Francisco que renunciasse em agosto de 2018, acusando-o de ter protegido McCarrick por muito tempo.
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Os relatos sobre o comportamento de McCarrick danificam a imagem da Igreja, com depoimentos de muitas pessoas que alegam ter mantido contacto físico com o prelado norte-americano, descrevendo "abusos e agressão sexual", "atividades sexuais indesejadas" e outros contactos físicos íntimos.
Para o Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé e braço direito do Papa Francisco, a publicação é "uma dor pelas feridas que o caso causou às vítimas, às suas famílias, à Igreja norte-americana e à Igreja universal".
Nos últimos dois anos, a Santa Sé colocou em prática várias medidas para prevenir e combater os escândalos sexuais na Igreja Católica, obrigando, por exemplo, os padres a denunciarem os seus superiores que pratiquem atos abusivos.