Maduro acusa grupo de contacto de "parcialidade", mas está disposto a receber enviados
Nicolás Maduro marcou uma conferência de imprensa esta sexta-feira, um dia depois de o Grupo de Contacto Internacional (GCI) para a Venezuela decidir enviar representantes para Caracas.
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O Presidente venezuelano, Nicolas Maduro, criticou esta sexta-feira a "parcialidade" dos países do Grupo de Contacto Internacional, que se reuniu pela primeira vez quinta-feira, e pediu uma "eleição presidencial livre" na Venezuela.
"Nós rejeitamos a parcialidade" do documento do Grupo de Contacto Internacional (GCI), "mas estou pronto e disposto a receber qualquer enviado" deste bloco de países europeus e latino-americanos, disse o Presidente da Venezuela, hoje numa conferência de imprensa no palácio presidencial de Miraflores.
Estas posições de Maduro surgem um dia depois de o GCI, na sua primeira reunião, decidir enviar representantes para Caracas para se reunirem com ambas as partes no país, reconhecendo que a crise humanitária "se está a aprofundar".
"Venezuela não tolerará o espetáculo da ajuda humanitária"
Durante o discurso, Maduro garantiu que vai evitar o que considera ser o "espetáculo" à volta da ajuda humanitária, referindo-se aos alimentos e remédios que chegarão ao país, oriundos dos EUA.
"A Venezuela não tolerará o espetáculo da chamada ajuda humanitária, porque não somos os mendigos de ninguém", reiterou o Presidente da venezuela.
Os primeiros camiões com alimentos e remédios, oriundos dos EUA começaram a chegar à Colômbia, onde aguardarão o desbloqueio de pontes entre os dois países latino-americanos.
Esta semana, Nicolas Maduro já tinha criticado os EUA por estarem a tentar uma intervenção militar na Venezuela, dissimulada por uma estratégia de alegada ajuda humanitária.
"Temos que aceitar que o império dos EUA existe e tem os olhos postos nas riquezas dos povos e acredita que a América Latina é o seu pátio traseiro. Veem-nos como o pátio traseiro, com desprezo, com desdém e querem a nossa riqueza", acusou Maduro.
Na opinião do chefe de Estado venezuelano, os EUA só pretendem "apoderar-se de Venezuela". "Eles não querem eleições, querem um golpe de Estado e arrasar connosco. Tipo Pinochet".
O ataque à União Europeia
"Nós dizemos a Federica Mogherini e à UE: vocês não estão a escutar-nos, estão surdos, só êm o guião da exterema-direita", apontou Nicolás Maduro, acusando a União Europeia de estar "condenada ao fracasso se continuar apenas a ouvir e a obedecer à extrema-direita venezuela".
O Presidente venezuelano citou mesmo John Lennon para apelar à paz: "Como dizia John Lennon, nós só queremos que dêm uma oportunidade à paz e ao diálogo. Só pedimos que nos escutem".
Portugal no Grupo de Contacto para a Venezuela
O GCI para a Venezuela, reunido quinta-feira em Montevideu, apelou ainda à realização de "eleições presidenciais livres", segundo a declaração divulgada no final dos trabalhos.
Participaram nesta primeira reunião do GCI a União Europeia (UE), que esteve representada pela chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, e por oito Estados-membros do bloco comunitário (Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Suécia).
Do lado da América Latina, estiveram presentes a Bolívia, Costa Rica, Equador, México e Uruguai. Portugal foi representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300 mil portugueses ou lusodescendentes.
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