Os tiroteios por guerras antigas entre cartéis passaram das ruas para dentro das casas. A presidente da Câmara de Mixtla de Altamirano morreu, e o Presidente mexicano está em alerta. Os três primeiros meses de 2019 registaram 682 homicídios.
Corpo do artigo
Foi em plena celebração familiar, na cidade de Minatitlán, no sul do Estado de Veracruz, que na última semana as tradições de risco da região tomaram proporções alarmantes para o Departamento de Segurança Pública. Ao longo dos seus 400 quilómetros de costa no Golfo do México, Veracruz impõe-se como uma das mais fulcrais áreas de importação e exportação de mercadorias do país, mas também por tensões frequentes e guerrilhas antigas entre cartéis.
Precisamente numa dessas guerrilhas, 13 pessoas foram mortas, em reunião de família, e a paz do lar não chegou para demover as forças do Cartel da Nova Geração de Jalisco. Foi um ato de vingança, acreditam as autoridades locais, e culminou na morte de um menino de um ano, baleado diversas vezes, e do seu pai. A mãe da criança e outras três vítimas foram hospitalizadas.
As tensões e os derramamentos de sangue têm ultrapassado as ruas e passaram para dentro das casas, onde a segurança já não mora. Apenas entre janeiro e março deste ano, a Secretaria Nacional de Segurança Pública do México registou 682 homicídios e 122 raptos no Estado costeiro, segundo reporta a CNN.
Um dia depois do tiroteio em massa, o secretário de Segurança Pública de Veracruz, Hugo Gutiérrez Maldonado, escreveu, na sua conta do Twitter, que as forças federais e estaduais foram destacadas para uma "forte operação de busca e captura dos responsáveis" pelos assassinatos. Gutiérrez Maldonado admitiu ainda ter necessitado de pedir auxílio ao procurador-geral do Estado para ajudar na busca.
1122211659710377985
Por seu lado, o governador de Veracruz, Cuitláhuac García, realizou uma reunião de emergência no dia seguinte ao tiroteio "para enfrentar os eventos lamentáveis e condenáveis".
"Vamos limpar este país. A corrupção vai acabar. A impunidade vai acabar. E haverá justiça", disse o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, no passado domingo. Mas apenas alguns dias depois, na última quarta-feira, houve um tiroteio em Mixtla de Altamirano, uma cidade a cerca de 165 quilómetros a noroeste de Minatitlán. Três pessoas foram mortas: a presidente da Câmara Maricale Vallejo Orea, o marido e o seu motorista.
No rescaldo da onda de violência que assolou Veracruz, o Presidente Lopez Obrador, acompanhado pelo gabinete de segurança, visitou Minatitlán, onde ocorreu o massacre da família de Maricale Vallejo Orea. E já pôs em marcha um plano de segurança para a região, com a recém-aprovada criação de uma nova Guarda Nacional, o principal plano de López Obrador para combater a violência e a corrupção que atingem o país. "Eu vim a Minatitlán para dizer a esta cidade que não está sozinha, que tem o apoio total do Governo", garantiu Lopez Obrador.
Ainda segundo o Presidente, "haverá elementos da polícia militar, marinha e federal" que serão "coordenados por um comando-militar ou da Marinha". O atual Presidente assumiu o cargo em dezembro de 2018, no final de um ano que assinalou mais de 33.000 homicídios no México, o maior número desde que há registo.
Só nos quatro primeiros meses deste ano, houve um aumento nacional de quase 10% nos índices de violência, e Veracruz não é caso único. Os Estados vizinhos de Puebla e Oaxaca, ao longo da fronteira sul de Veracruz, também têm vivido uma onda de violência. De acordo com a Secretaria Nacional de Segurança Pública do país, nos primeiros três meses de 2019, contabilizaram-se 558 homicídios em Puebla e 462 em Oaxaca.
Também segundo a InSight Crime, uma fundação focada na "ameaça à segurança nacional e cidadã" da América Latina e no crime organizado, as fações rivais do cartel em Veracruz são o Cartel da Nova Geração de Jalisco e uma divisão do cartel Zetas, em guerra no Estado costeiro, depois de "membros do Zetas Old School terem executado três supostos membros do Nova Geração "no início de abril. O jornal mexicano Proceso, num artigo datado de 15 de março, informou que o Cartel de Nova Geração de Jalisco "declarou guerra contra o governo de Veracruz", e citou um "narcomanta" - uma mensagem de um cartel escrito em tecido - que foi deixado às portas do Estado. "Muitos de nós vão morrer", podia ler-se.
O Governo mexicano vem travando uma nova guerra às drogas com cartéis e narcotraficantes desde 2006 e, ao mesmo tempo, os cartéis de drogas têm lutado uns contra os outros numa campanha brutal pelo controlo do território.
A nova iniciativa da Guarda Nacional de Lopez Obrador será o primeiro teste da sua presidência para livrar o país da violência, das drogas e da corrupção. "Antes, ninguém sabia onde a autoridade terminava e onde a delinquência começava. Mas agora não haverá mistura", asseverou o Presidente mexicano.