A cimeira Trump-Kim é só o início? Hanói quer mostrar que pode ser palco para mais
Donald Trump e Kim Jong-un têm encontro marcado esta quarta-feira em Hanói, naquela que será a segunda cimeira entre os dois líderes no espaço de oito meses.
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Após o simbolismo histórico da cimeira de Singapura, de 12 de junho do ano passado, Hanói - capital de um país que há pouco mais de 40 anos era palco de uma traumática guerra com os Estados Unidos - ambiciona abrir caminho para passos concretos rumo à paz duradoura na península coreana e na região Ásia Pacífico.
Todavia, o processo de desnuclearização é complexo e será longo, alertam os observadores. E há que estabelecer um mecanismo internacional de verificação, uma falha apontada pelos críticos da cimeira de Singapura.
Para Hanói, este encontro surge como uma oportunidade de afirmação da cidade e da diplomacia do país.
Designada pela UNESCO em 1999 Cidade da Paz - a primeira no continente asiático a receber este título - em Hanói encara-se o sucesso da cimeira Trump-Kim como algo de importante para projetar a cidade como anfitriã de outras cimeiras. É desta forma que Do Anh Tuan, jornalista sénior do diário vietnamita Ngan Hang, vê a cimeira.
"Podemos passar a ter um papel diplomático mais relevante se esta cimeira tiver sucesso e quiçá passar a ser palco para mais centros de alto nível de promoção da paz", afirma num inglês bastante fluente, entre o burburinho de um centro de imprensa repleto de jornalistas de todo o mundo.
O evento está, de resto, a ser aproveitado pelas autoridades vietnamitas para promover a cidade e o desenvolvimento turístico e económico do país. Jornalistas estrangeiros acreditados para a cimeira têm à sua disposição tours e viagens de comboio grátis, abundado informação sobre os progressos económicos do país desde o lançamento do processo de reformas e abertura em 1986 conhecido como Doi Moi - um pouco à semelhança com o que se passou na China desde 1979.
A história de sucesso da abertura à economia de mercado do Vietname é vista por vários observadores como uma via de futuro para a Coreia do Norte.
Os dois países partilham um sistema de partido único e um regime socialista de estado, mas a economia norte-coreana permanece fechada ao exterior. No passado, o modelo chinês era o mais referido como referencia para os norte-coreanos.
Agora o Vietname aparece aos olhos de muitos também como uma fonte de inspiração. Do Anh Tuan concorda mas salienta que ser um modelo não quer dizer seguir à risca uma receita específica.
"O Vietname pode ser, de facto, um modelo a ser tido como referência, mas a Coreia do Norte pode olhar para nós, os Estados Unidos e a China e aproveitar o que positivo estes modelos têm para desenvolver a sua economia rapidamente", analisa.