Cirurgiões testaram destreza da artista enquanto lhe retiravam um tumor de crescimento rápido. Veja o vídeo.
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Dagmar Turner, uma violinista de 53 anos, tocou violino enquanto os médicos lhe retiravam do cérebro um tumor de crescimento rápido. A sugestão de fazer assim a operação, profundamente sedada e de crânio aberto, foi da artista.
Os cirurgiões do Hospital de Kings College, em Londres, concordaram e foi assim que conseguiram retirar 90 por cento do tumor que estava alojado mesmo junto à zona do cérebro que coordena os movimentos da mão esquerda. Três dias depois de se ter submetido a este procedimento inovador, a mulher teve alta e continua a ser violinista.
Os médicos decidiram avançar com esta nova abordagem para garantir que as zonas do cérebro de Dagmar Turner responsáveis pelos movimentos das mãos não eram afetadas durante o procedimento cirúrgico. Há vídeos, captados durante a operação, que mostram a mulher a tocar violino enquanto os médicos trabalhavam.
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"Realizamos cerca de 400 ressecções [remoções de tumores] todos os anos, o que muitas vezes envolve a realização de testes de idiomas, mas esta foi a primeira vez que um paciente tocou um instrumento. Conseguimos remover mais de 90% do tumor, incluindo todas as áreas com atividade agressiva suspeita, mantendo todas as funções da mão esquerda", explicou Keyoumars Ashkan, neurocirurgião consultor do Hospital de Kings College.
A artista da Orquestra Sinfónica da ilha de Wight, no sul de Inglaterra, foi diagnosticada com o tumor em 2013, após sofrer uma convulsão durante um concerto. A simples ideia de perder a destreza que lhe permite tocar violino partia-lhe o coração.
"Ashkan e toda a restante equipa do Kings College fizeram tudo para planear a operação, desde mapear o meu cérebro até à posição em que precisava de estar para tocar. Graças a eles espero estar de volta à minha orquestra muito em breve", acrescentou Dagmar Turner.
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"O cérebro não tem recetor de dor"
Alexandre Rainha Campos, neurocirurgião no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, faz este tipo de cirurgias em Portugal. O médico explicou porque é que os doentes não sofrem durante estas operações e até podem tocar violino.
"O ponto principal é que, de facto, o cérebro não tem recetor de dor e, portanto, podemos estar perfeitamente a mexer sem causar dor ou qualquer desconforto no doente. Isso permite-nos fazer mapeamento de funções como a fala ou tocar um violino, por exemplo, sem que isso cause algum desconforto ao doente", explicou à TSF Alexandre Rainha Campos.
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Alexandre Campos faz este tipo de cirurgias ao cérebro com frequência, geralmente para proteger as funções de linguagem do paciente.
"Com músicos a tocar não, isto são casos muito pontuais, mas não é muito frequente termos necessidade de fazer este tipo de teste. Fazemos com muita frequência para testar outras funções como, por exemplo, a linguagem", sublinhou o neurocirurgião do Hospital de Santa Maria.
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