O Reino Unido pode ter acabado com as suas próprias hipóteses de sobrevivência. A reação da União Europeia também está a ser "um tiro no pé", diz Viriato Soromenho Marques.
Corpo do artigo
"Um suicídio foi cometido", afirma Viriato Soromenho Marques. Em declarações à TSF, o professor catedrático da Faculdade de Letras da universidade de Lisboa considerou que a capacidade de sobrevivência do Reino Unido está dependente da própria sobrevivência da União Europeia ao 'Brexit'.
Para Viriato Soromenho Marques, os votos da Escócia e da Irlanda do Norte no referendo desta quinta-feira exibem "uma vontade de pertencer à Europa" que mostra que o Reino Unido "está condenado a desaparecer".
É um momento de viragem e um grande "ponto de interrogação", segundo Soromenho Marques, que crê que agora tudo vai depender de dois grandes indicadores: a reação dos mercados financeiros e a resposta política da Europa.
Nesta que é já considerada uma "sexta-feira negra", com a maior quebra histórica da libra e a crescente desvalorização do euro, a "ação dos grandes bancos europeus" vai ser fulcral, segundo o especialista. É a "hora da verdade, em que caem as máscaras", diz.
A desvalorização da moeda vai revelar a fragilidade do sistema bancário europeu, para além de acelerar o custo das dívidas públicas. Viriato Soromenho Marques diz que os grandes bancos europeus têm agora a responsabilidade de "criar barreiras" que estabilizem a tendência para a queda e a desconfiança.
É na reação política da Europa que o professor universitário diz ter "a maior das desconfianças". Acusa Merkl, Hollande e o próprio Cameron de terem feito um "mau serviço à Europa". Duvida que os líderes sejam capazes de devolver a credibilidade ao bloco europeu, tanto junto dos mercados financeiros como dos próprios cidadãos porque, há que não esquecer, "o 'Brexit' foi feito por voto popular".
A anunciada reunião dos seis países fundadores da UE é já, para Soromenho Marques, um "tiro no pé", num momento em que todos os Estados-membros deveriam estar reunidos.
O professor catedrático diz que agora há que fazer uma "clara declaração política" que mostre uma mudança radical, o que inclui a suspensão do tratado orçamental e o fim das "ameaças de sanções". Caso contrário, a UE vai passar de uma "política de integração" para uma de "desintegração", com todos os Estados-membros "a sair pela janela".