"Viva o Papa." Adesão popular e pedidos dirigidos a crianças marcam visita de Francisco a Timor-Leste
Crianças e jovens foram um dos temas logo no primeiro discurso do Papa, quando pediu a consolidação do Estado para servir os timorenses e apostar na educação dos jovens, a maioria da população
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A visita do Papa Francisco a Timor-Leste terminou esta quarta-feira sem surpresas, cumprindo-se o que era previsível, grande adesão do povo, missa com milhares de pessoas e alertas e pedidos do Papa, especialmente dirigidos às crianças.
Crianças e jovens foram um dos temas logo no primeiro discurso do Papa, no palácio presidencial, no dia da chegada, segunda-feira, quando pediu a consolidação do Estado para servir os timorenses e apostar na educação dos jovens, a maioria da população.
"Uma educação que coloque as crianças e os jovens no centro e promova a sua dignidade", disse, sublinhando que o entusiasmo dos mais novos, juntamente com a sabedoria dos mais velhos, forma uma "combinação providencial de conhecimento".
Francisco falou também na altura do excessivo consumo de álcool entre os jovens, da violência, e acrescentou: "Não esqueçamos também muitas crianças e adolescentes feridos na sua dignidade", pelo que "todos somos chamados a agir de forma responsável" para evitar qualquer tipo de situação que impeça o crescimento tranquilo das crianças.
Um tema a que daria depois destaque na missa de terça-feira em Tasi Tolu, arredores de Dili, que juntou mais de 600 mil pessoas, segundo as autoridades, o que representa quase metade da população de Timor-Leste, 1,3 milhões, católicos quase na totalidade.
Foi perante essa multidão que o Papa disse que as crianças e jovens de Timor-Leste são um "grande dom". E acrescentou: "Timor-Leste é bonito, porque tem muitas crianças: sois um país jovem onde por todo o lado se sente a vida a pulsar, a desabrochar e isso é um grande dom".
"A presença de tantos jovens e crianças renova constantemente a frescura, a energia, a alegria e o entusiasmo do vosso povo, mas, mais ainda, trata-se de um sinal, porque dar espaço aos mais pequenos, acolhê-los, cuidar deles e fazermo-nos pequenos diante de Deus e diante uns dos outros são precisamente atitudes que nos abrem à ação do Senhor", afirmou o Papa.
A visita de Francisco acontece poucos dias depois de um Movimento Nacional de Solidariedade pelo bispo Ximenes Belo ter entregado uma petição a pedir a intervenção das autoridades timorenses junto do Vaticano para o regresso ao país do prémio Nobel da Paz, acusado de alegados abusos de menores e alvo de sanções disciplinares pelo Vaticano.
Além dos jovens, o Papa já tinha alertado também para a humilhação que "destrói a vida humana", incluindo a violência e a "falta de respeito pela dignidade das mulheres".
E foi ainda na missa de Tasi Tolu, ouvido ao vivo por metade do país, que o Papa deixou um aviso menos direto, pedindo cuidado com os crocodilos que querem mudar a identidade e a história de Timor-Leste. (O crocodilo na tradição timorense é um símbolo sagrado, porque segundo a lenda a ilha nasceu de um crocodilo).
"Estejam atentos, porque me disseram que em algumas praias vivem crocodilos. Os crocodilos que nadam e têm uma mordida forte. Estejam atentos a esses crocodilos, que querem mudar-vos a cultura e a história", afirmou Francisco, voltando a salientar que o melhor que Timor-Leste tem é o seu povo e o melhor que o povo tem são as suas crianças.
"Um povo que ensina as suas crianças a sorrir, é um povo com futuro", disse Francisco, pedindo também aos timorenses para cuidarem dos mais velhos, a "memória da terra".
Francisco haveria de voltar ao tema no último discurso da visita, quando se reuniu com jovens timorenses, a quem pediu para "fazerem barulho", respeitarem os mais velhos e não perderem a esperança e entusiasmo da fé, um encontro no qual abordou também a liberdade, fraternidade e reconciliação.
O Papa chegou na segunda-feira a Timor-Leste, no âmbito de um périplo pela região que já o tinha levado à Indonésia e Papua Nova Guiné. Hoje partiu para Singapura, última etapa da sua visita por países asiáticos.
Francisco chegou ao principio da tarde e tinha à sua espera milhares de pessoas que ladeavam as ruas por onde passou, de carro, em direção à Nunciatura Apostólica, onde ficou hospedado. Ao final da tarde foi recebido oficialmente no Palácio Presidencial, pelas principais autoridades do país, entre cerimónias tradicionais a atos simbólicos.
O segundo dia da presença em Timor-Leste, com uma visita a um centro para crianças com necessidades especiais, na escola "Irmãs Alma", entre outros atos privados, sempre rodeado de grandes multidões, foi marcado pela missa, o ponto alto de todo o programa.
A presença popular constante, um Papa sorridente que saudou e benzeu os fieis, cânticos e orações, ovações dos fieis, números de dança e cânticos tradicionais, ou ofertas de panos tradicionais foram uma constante nos três dias.
E hoje, depois de uma reunião com a juventude no Centro de Convenções em Dili, partiu como chegou, rodeado de pessoas, milhares de pessoas que o aguardaram horas junto do aeroporto de Dili e vias de acesso para se despedir.
Emocionadas como no primeiro dia, acenando com bandeiras de Timor-Leste e da Santa Sé e gritos de "Viva o Papa" como na primeira hora. Francisco partiu às 12h25 locais (04h25 em Lisboa).
Esta é a segunda vez que um Papa visita Timor-Leste, a primeira ocorreu em 1989 quando João Paulo II visitou o território, ainda sob ocupação indonésia.
