Viver em confinamento há seis meses na Argentina "é um cansaço enorme e profundo"
A Argentina não abre mão do confinamento que começou em março. O governo aposta tudo na prevenção da Covid-19, mantendo o maior número de pessoas em casa e proibindo qualquer aglomeração de pessoas. Nem mesmo em família. Uma emigrante portuguesa conta como é viver assim na capital do país.
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Aterrou em Buenos Aires, há 12 anos, para fazer uma pós-graduação em gestão cultural. Estudou, casou e ficou. Em março, Maria João Machado recebia com estranheza as notícias de Portugal.
"Parece impossível, mas esses dias, antes do início do nosso confinamento, parecia que era um mundo à parte. Parecia que estava tão longe, que nunca chegaria aqui", conta.
Sete meses depois do início do confinamento, esta emigrante portuguesa na Argentina sente que a população está no limite: "Isto gerou um cansaço enorme e profundo, que levou, por um lado, a uma enorme taxa de angústia e de ansiedade, por outro lado, os próprios argentinos começaram a desrespeitar às normas e de certa forma, há uma certa permissividade por parte do governo".
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Apesar do desgaste, os argentinos compreendem o custo-benefício da estratégia contra a Covid-19. "Eu acho que todos entendemos que esta quarentena teve um efeito direto no baixo número de mortes, registado na Argentina. Somos o país que em média, por milhão de habitantes, tem a taxa de mortalidade mais baixa da América do Sul. Isto acontece, sem dúvida, porque houve um reforço do sistema nacional de saúde durante a quarentena", sustenta.
A Argentina não escapou a uma crise social e económica. Maria João Machado, diz que tem valido um conjunto de medidas transversais, que vão desde, a atribuição de "um apoio familiar de emergência, uma assistência de emergência ao trabalho e à produção, que acumulam com os abonos familiares e com outros subsídios, como o de desemprego. Há muitos apoios, também, para as empresas. O Estado está, até hoje, a suportar metade dos salários dos trabalhadores, cujas empresas não têm capacidade para cumprir com o pagamento. Os despedimentos estão proibidos. As tarifas da luz, água e gás estão congeladas. E também há muitos subsídios para a cultura".
A falta de horizonte acentua o receio. Com fronteiras encerradas e viagens entre províncias proibidas, a sociedade argentina - centrada na família - já pensa no fim do ano. Maria João Machado refere que o facto de "não se saber se vamos poder estar juntos no Natal com os nossos familiares é uma coisa que gera bastante ansiedade"
Em Buenos Aires já há um alívio nas restrições. O pequeno comércio, abundante na capital da Argentina, está aberto e muitas pessoas vão diariamente para os seus postos de trabalho, tendo ordem para tal. No entanto, os eventos públicos estão proibidos, as escolas estão encerradas e não é recomendada a utilização dos transportes públicos.