O Parlamento Europeu começou esta semana a ouvir os candidatos a comissários. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, já foi obrigada a fazer mudanças.
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A primeira semana de audições de comissários indigitados no Parlamento Europeu revelou-se particularmente preocupante para a presidente eleita da Comissão Europeia que, além de ter sido 'obrigada' a substituir dois candidatos, tem outros três no 'limbo'.
A semana difícil de Ursula von der Leyen começou com a confirmação, na segunda-feira, do chumbo, pela comissão de Assuntos Jurídicos do Parlamento Europeu (PE), dos nomeados de Hungria e Roménia, uma decisão que obrigou a política alemã a encetar diligências, junto de Budapeste e Bucareste, para alterar, de forma precipitada, o alinhamento original do seu colégio.
O veto a László Trócsányi (Vizinhança e Alargamento) e Rovana Plumb (Transportes) seria, no entanto, apenas a primeira dor de cabeça causada pela assembleia europeia à presidente eleita na última semana, já que, cumpridas 19 das 26 audições de comissários designados, há três em risco: a francesa Sylvie Goulard (Mercado Interno), o polaco Janusz Wojciechowski (Agricultura) e a sueca Ylva Johansson (Assuntos Internos).
As comissões parlamentares responsáveis pelas audições não ficaram convencidos com as 'prestações' dos nomeados de França, Polónia e Suécia e decidiram formular novas questões, a que os candidatos terão de responder por escrito, numa tentativa de evitar outro 'frente-a-frente' com os eurodeputados.
Se as respostas escritas dos comissários designados forem novamente insatisfatórias, a comissão parlamentar responsável por dar o parecer sobre o mesmo pode decidir retomar a audição, para uma nova sessão de perguntas e respostas, com uma duração de 90 minutos.
O caso mais problemático parece ser o de Sylvie Goulard (Renovar a Europa), potencial 'vítima' de uma retaliação pelos 'chumbos' de Trócsányi (Partido Popular Europeu) e de Plumb (Socialistas e Democratas) e pela sua proximidade com o Presidente francês, Emmanuel Macron, visto pelo PE como o 'culpado' pela morte do 'Spitzenkandidaten', o processo segundo o qual o presidente da Comissão Europeia é escolhido entre os candidatos apresentados pelas principais famílias políticas europeias
A política francesa esteve, na quarta-feira, sob 'fogo cruzado' dos eurodeputados, que a instaram a explicar o seu envolvimento no caso dos empregos fictícios de assistentes do seu partido, o MoDem, no PE e a sua ligação ao Instituto Berggruen, um 'think tank' financiado por um magnata de Wall Street, enquanto era eurodeputada.
As justificações da liberal francesa, e o seu pedido de presunção de inocência, não sensibilizaram a comissão parlamentar do Mercado Interno, responsável pelo seu parecer, que decidiu pedir mais esclarecimentos por escrito à aliada de Macron
A antiga ministra da Defesa, cargo do qual se demitiu apenas um mês após ter sido nomeada devido ao caso dos empregos fictícios, fracassou na missão de convencer os eurodeputados de que a devolução de 45.000 euros à assembleia europeia, relativos a oito meses de salário de um assistente a quem continuou a pagar já depois de este ter deixado de trabalhar para si e ter passado a colaborar com o MoDem, se deveu a "um problema de gestão de recursos humanos".
Única comissária indigitada sob investigação do Organismo Europeu de Luta Antifraude -- decorre em paralelo uma investigação na justiça francesa também referente ao mencionado caso -, Goulard mereceu ainda várias críticas pelo elevado salário (cerca de 13.000) que auferiu enquanto conselheira especial do 'think tank' de Nicolas Berggruen, uma função que exerceu entre 2013 e 2016 a par da sua atividade como deputada europeia.
Motivos bem diferentes são aqueles que colocaram no 'limbo' Johansson e Wojciechowski: se a mulher a quem Ursula Von der Leyen confiou os Assuntos Internos revelou desconhecimento em temas fulcrais da pasta que irá tutelar, nomeadamente as migrações e os pedidos de asilo, o comissário indigitado pela Polónia foi evasivo e hesitante nas respostas sobre o futuro da política agrícola da União Europeia, causando apreensão juntos dos eurodeputados.
Sem parecer positivo, respetivamente das comissões parlamentares de Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos e de Agricultura, ambos terão agora de responder às perguntas adicionais que lhes foram endereçadas.
Ainda assim, nem tudo foram más notícias para a presidente eleita: o grego Margaritis Schinas demonstrou que o problema da polémica em torno da "Proteção do Modo de Vida Europeu" se resume ao nome da sua vice-presidência e não às suas convicções, Didier Reynders comprovou estar altamente preparado para assumir a pasta da Justiça, agora que a justiça belga encerrou a investigação sobre suspeitas de corrupção que o envolvia, e Paolo Gentiloni convenceu os eurodeputados que estará ao serviço da UE e não de Itália enquanto comissário da Economia.