Líder da Comissão Europeia também vincou que os agricultores já são os maiores beneficiários do orçamento da União Europeia.
Corpo do artigo
O protesto dos agricultores chegou esta quinta-feira às portas das instituições europeias, em Bruxelas, onde os líderes europeus estiveram reunidos a propósito da ajuda à Ucrânia. Mas o tema da agricultura acabou por ser introduzido à última hora na agenda, para uma breve discussão.
No final da cimeira, o presidente da Comissão Europeia prometeu novas medidas ainda este ano. “Temos de defender os interesses legítimos dos agricultores nas nossas negociações comerciais, em especial para garantir condições equitativas em termos de normas quando celebramos acordos comerciais”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, declarando-se “muito sensível à mensagem de que os agricultores estão preocupados com os encargos administrativos”.
“Este é um tema de carácter geral. Sabem que me é muito caro reduzir estes encargos administrativos. Por isso, vamos trabalhar com a Presidência belga numa proposta que depois apresentaremos pronta a tempo, antes do próximo Conselho Agrícola, para trabalhar na redução desses encargos administrativos”, prometeu Von der Leyen.
Reconhecendo que “os agricultores desempenham um papel essencial na economia e na sociedade europeias”, Von der Leyen lembrou que “ainda esta semana” a Comissão Europeia “propôs uma flexibilidade adicional para os agricultores no que se refere à chamada utilização conjunta das terras”.
“Também propusemos salvaguardas para as importações de ovos de aves de capoeira e de açúcar da Ucrânia, a fim de evitar um aumento significativo das importações”, afirmou a presidente da Comissão, procurando ir ao encontro de uma das reivindicações dos agricultores, que protestavam a poucas centenas de metros da sede do Conselho Europeu.
Um dos agricultores presentes na manifestação, Vincent, que viajou durante “quatro horas” para percorrer “uma centena de quilómetros” de tractor até à capital belga, confidenciou à TSF o desalento perante as “dificuldades” que o sector enfrenta.
“Este ano, houve muita chuva, no ano anterior houve muita seca, portanto isso também muda”, lamentou, dizendo que não resta outra alternativa a não ser “a adaptação”.
“Mas nós adaptamo-nos ao clima”, vincou, esclarecendo que estava presente no protesto também para contestar a “ditadura ecológica” que, segundo ele, emana das “regras europeias”.
“A Europa quer salvar o mundo sozinha. Mas nós não vamos mudar o clima sozinhos, isso não vai funcionar, não vai”. Vincent acrescentou ainda ao rol de queixas, as importações. “As importações? Importar cereais da Ucrânia sem direitos aduaneiros, isso também não está certo. Nós queremos ajudar a Ucrânia, mas há limites”, vincou.
Na cimeira europeia, os líderes não ficaram indiferentes ao protesto, nem ao contributo dos agricultores para “o modo de vida europeu”.
“O seu trabalho contribui grandemente para a nossa segurança alimentar e, na verdade, também para o nosso modo de vida”, destacou a presidente da Comissão Europeia, considerando que os agricultores são “fundamentais para garantir a utilização sustentável dos recursos naturais”.
“Vivem com a natureza e da natureza. Esta é, afinal, a base dos seus meios de subsistência e, por conseguinte, também a base do nosso modo de vida”, sublinhou, destacando também o contributo da agricultura para a economia.
“Em 2022, a produtividade aumentou 13% graças aos seus esforços e contribuem também de forma positiva para o nosso comércio externo. No ano passado, mais uma vez, as exportações agroalimentares aumentaram 5%. Por isso, penso que é justo dizer que os nossos agricultores demonstraram uma resiliência notável face às recentes crises”.
Porém, Von der Leyen também vincou que os agricultores já são os maiores beneficiários do orçamento da União Europeia. “O orçamento da política agrícola comum atribui cerca de 390 mil milhões de euros, isto representa quase um terço do orçamento europeu, para a agricultura”.
“E, só em 2023, a Europa prestou uma assistência excecional de mais de 500 milhões de euros aos agricultores mais afetados por crises. Sabemos que este apoio é crucial e sabemos que os agricultores estão a fazer bom uso dele”, frisou.
No entanto, a chefe do executivo comunitário reconheceu “os múltiplos desafios” que o sector enfrenta. “Por exemplo, a tensão sobre os preços, os preços dos produtos agroalimentares ou um mercado global muito competitivo que conduz à incerteza e, claro, a necessidade de permanecer competitivo, trabalhando ao mesmo tempo com normas elevadas e com a proteção do ambiente, uma tarefa muito complexa”, sublinhou.