"Voo da vergonha", o movimento que incentiva viajantes a trocar o avião pelo comboio
Na Suécia, o movimento "Voo da vergonha" ou "Flight shame" incentivou inúmeros viajantes a optarem pelo comboio como meio de transporte, o que originou uma queda no tráfego aéreo de passageiros.
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O drástico aumento de passageiros aéreos começou quando companhias aéreas low cost como a Ryanair e a easyJet começaram a praticar preços quase simbólicos por viagem.
Uma viagem aérea envia tanto dióxido de carbono para a atmosfera como um carro em deslocação durante um ano e, para preservar o meio ambiente, alguns viajantes europeus, principalmente este verão, trocaram as curtas e mais cómodas viagens de avião por outros meios de transporte, principalmente o comboio.
O fundador do site Seat 61, dedicado a viagens de comboio, principalmente pela Europa, nota uma mudança positiva nas pessoas que procuram a sua página. Mark Smith contou ao jornal americano The Washington Post que o ambiente é uma das razões apontadas. "Agora, quando as pessoas me dizem por que razão apanham o comboio, elas dizem duas coisas ao mesmo tempo: dizem que estão cansadas do stress de voar e que querem reduzir a sua pegada de dióxido de carbono."
Jean-Marie Skoglund, especialista em aviação na Agência Sueca de Transporte, disse que o decréscimo no setor do país, além das fortes preocupações das pessoas relacionadas com o ambiente também envolve a desaceleração da economia e as mudanças fiscais.
Nos primeiros seis meses deste ano, o tráfego aéreo de passageiros caiu 3,8% na Suécia em comparação com o ano passados, associado ao decréscimo estão as preocupações que as pessoas têm cada vez mais com o clima.
O jornal The Washington Post acompanhou Johan Hilm, um viajante sueco que vive em Estocolmo e se surpreendeu com o impacto dos voos que fazia através de um teste online sobre a pegada de carbono. "80% das minhas emissões eram de viagens", desabafou, o que o levou a tomar a decisão de viajar para a Áustria noutro meio de transporte.
https://www.youtube.com/watch?v=cWSG7HCB-i8
Viagens que prejudiquem menos o ambiente exigem mais tempo e este ambientalistas utilizou vários comboios, autocarros e até uma balsa para chegar ao destino final. Demorou cerca de 30 horas, mas reduziu as suas emissões de carbono em 80%.
Susanna Elfors, fundadora de um grupo de Facebook chamado Train Vacation, afirmou que caso se queira "reduzir o seu impacto ambiental, a melhor coisa que pode fazer é parar de voar." O grupo é dedicado exclusivamente a viagens de comboio e tem cerca de 99 mil membros, o que corresponde a 1% dos 10 milhões de pessoas que habitam na Suécia.
Apesar do movimento "voo da vergonha" estar a ganhar dimensão principalmente por parte dos jovens, as viagens de avião em toda a Europa aumentaram em 4,4% no primeiro trimestre de 2019, de acordo com dados do Conselho Internacional de Aeroportos.
Os apoiantes deste movimento inspiraram-se na adolescente sueca Greta Thunberg que, com apenas 16 anos, tem atravessado a Europa de comboio e pressionado os políticos a fazer mais pelo meio ambiente. A jovem não entra num avião desde 2015.
#StayOnTheGround, movimento que surgiu através adolescente ambientalista invadiu as redes sociais dos suecos e foi apoiado e divulgado por diversas estrelas cinematográficas do país que assinaram uma petição para reduzir as filmagens fora do país.
Pelo menos até 2022 haverá comboios noturnos garantidos nas principais cidades europeias.
Uma lista da União Europeia divulgada em abril deste ano classificou a Ryanair como uma das dez maiores emissoras de carbono da Europa e, por consequência, os líderes europeus repensam cada vez mais sobre os incentivos quanto a viagens de avião.