Voos cancelados, falta de luz , água e comunicações. Em Moçambique o momento é de "medo"
Após o ciclone Idai, dizem os que estão em território moçambicano, o sentimento não poderia ser outro. A apreensão tomou conta dos locais e os primeiros sinais da tempestade Chalane já são visíveis.
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Em Moçambique, as últimas horas têm sido de apreensão. A chuva intensa e o vento forte são os primeiros sinais da tempestade Chalane, que, não obstante o previsto, não está ainda a ter grande expressão.
Alexandre Mabasso, do "Jornal do Povo", na Beira, conta à TSF que, embora o temporal não se assemelhe ao ciclone Idai, os locais continuam em casa, por precaução. "Tivemos a chuva e tivemos o vento, muito vento", conta o jornalista. Os estragos são para já poucos, mas visíveis. "As construções são velhas, na sua maioria. Algumas casas perderam tetos. Nalgumas casas voaram as chapas."
O jornalista residente na Beira reconhece que o episódio meteorológico está a inspirar "mais medo, consequente da sequela do ciclone Idai, que num verdadeiro temporal que passámos desta vez".
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Na Beira, a apreensão ainda não deu descanso. "Estamos a dizer às pessoas para não se fazerem à rua neste momento, porque está a abrandar o vento. Não sabemos se terá alguma evolução nalgum momento. Ainda há medo."
Também na Beira, no sétimo distrito, Matacuane, Suicídio Jorge adianta que falta eletricidade, água e as comunicações apresentam falhas: "Não temos luz desde a meia-noite, não temos água também. A maior parte das nossas antenas funciona à base de energia elétrica, e não temos luz na cidade, por isso a qualidade [das comunicações] não é a melhor."
"Tive curiosidade de dar uma volta pela cidade para ver o que aconteceu. Passei ao longo da costa, e o que se vê é muita areia, mas está tudo bem."
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Ana Pinto Oliveira, diretora de ação humanitária da Médicos do Mundo, está em Maputo, mas já falou esta manhã com a equipa de oito pessoas da organização, na província de Sofala. À responsável, os profissionais no terreno contaram que as tendas do campo de realojamento já voaram.
"As tendas de emergência já foram abaixo, o que me preocupa um pouco, porque, na realidade, no centro onde nós temos 2500 pessoas, salvo raras exceções, que conseguiram fazer alguma construção com o tijolo que eles próprios produzem, estão todos a viver em tendas", admite Ana Pinto Oliveira.
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No Dondo, "já há muitas casas danificadas por causa desta tempestade", pelo que os voluntários no terreno estão "apreensivos". Com tendas destruídas e a antecipação de rajadas que podem chegar aos 150 km/h, foi concertada uma ação com todos os parceiros de saúde. Faltam "coisas tão básicas como ter soros de rehidratação oral", garante Ana Pinto Oliveira.
O país não tem capacidade de responder com certos bens "básicos", de forma "imediata", mas há parceiros que podem contribuir. "Nós [Médicos do Mundo], por exemplo, vamos contribuir com uma viatura. As nossas viaturas acabam por funcionar como ambulâncias. Feridos ou outros doentes que tenham de ir para o hospital irão na nossa viatura. Além dessa contribuição, os nossos profissionais de saúde irão trabalhar sempre, sábado e domingo, e a todas as horas."
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Os voos foram cancelados, o que está a gerar ansiedade entre a comunidade de portugueses. "Já há uns dias falava com outros colegas e pessoas que vivem aqui e obviamente há uma grande apreensão, depois do que passaram em 2019, com o ciclone Idai. Já ouvi portugueses a dizer que não iriam passar pelo mesmo e que agora queriam mesmo sair do país."
Ana Pinto Oliveira também não consegue para já deslocar-se: "Não consigo ir para a Beira agora, foi tudo cancelado ontem."
A cidade da Beira, na província de Sofala, centro de Moçambique, está esta quarta-feira em alerta devido ao temporal esperado pela passagem de uma tempestade tropical que se formou no Oceano Índico.
Além da província de Sofala, a tempestade tropical Chalane deverá atingir posteriormente parte das províncias da Zambézia e Manica, estando as autoridades a sensibilizar as populações para que abandonem as zonas de risco.
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Sofala prevê que, no pior cenário, a tempestade tropical afete 71.070 pessoas, das quais 23.230 na cidade da Beira.
Entre os meses de outubro e abril, Moçambique é ciclicamente atingido por ventos ciclónicos oriundos do Índico e por cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral, além de secas que afetam quase sempre alguns pontos do sul do país.
Além do Idai, pouco tempo depois, em abril, o Norte de Moçambique foi afetado pelo ciclone Kenneth, que matou 45 pessoas e afetou outras 250 mil.