Foi assim que o jornalista colombiano de Cartagena e voz das manhãs da rádio RCN, Juan Lozano, explicou à filha pequenina o que iria fazer terça-feira. Editores de meios de comunicação da União Europeia, América Latina e Caraíbas iniciaram dois dias de debates, em Cartagena das Índias, na Colômbia
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A intervenção do jornalista colombiano, que moderou um painel que contou com o autarca da cidade de Cartagena (Dumek Turbay) e Yamil Arana Padauí, governador da região em que se insere, Bolivar, foi no sentido da insistência na valorização da profissão como exercício de teimosia humana inteligente nos tempos da inteligência artificial (IA).
"O impacto da IA nos meios de comunicação social e a relação bilateral da Europa com a América Latina", é o tema central que reúne dezenas de jornalistas e alguns académicos, para além de responsáveis políticos da Colômbia, nos debates que se realizam em vários locais da cidade famosa pelo turismo na costa do Caribe colombiano, património da humanidade e onde vive 53% da população do departamento (província) de Bolivar.
O oitavo congresso internacional CELAC-UE teve início esta terça-feira de manhã no Palácio da Proclamação, em Cartagena das Índias, com a presença da Ministra dos Negócios Estrangeiros da Colômbia, Laura Sarabia.
No local onde foi proclamada a independência do país, a chefe da diplomacia colombiana preconizou que, no futuro, os meios de comunicação “que vão sobreviver são os que se afastam da lógica do clique”. Sarabia entende que este é o tempo de “defender a democracia”, que não precisa de nenhuma receita para ser reinventada, apenas ser posta ao serviço da melhoria das condições de vida das pessoas. A MNE da Colômbia diz que este é um tempo para se defender igualmente “a prudência das relações internacionais”, sendo que a diplomacia do país tem uma aposta grande em mãos: a realização, no início de novembro, da reunião UE CELAC.
A política considerada uma espécie de delfim do presidente colombiano Gustavo Petro, que para esta terça-feira convocou uma mobilização cívica para fazer avançar as reformas da saúde e laboral, até agora travadas no congresso, falou após a intervenção inicial de Yago Lopez, CEO do grupo Prestomedia, entidade espanhola organizadora do evento, que destacou a importância de “uma informação séria e verificada”, como pilar da democracia, pois “vivemos em tempos de grande incerteza. A atual situação geopolítica recorda-nos que uma informação rigorosa e verificada não é apenas um serviço público, mas um pilar essencial para a estabilidade das nossas sociedades”, disse.
Num mundo em que a desinformação “é utilizada como uma arma, os meios de comunicação social têm a responsabilidade não só de informar, mas também de proteger a integridade do debate público.” O trabalho dos jornalistas acaba por ser não apenas relatar os factos, “mas também desmascarar a manipulação, fornecer contexto e servir de barreira à propaganda e ao populismo”, afirmou um dos responsáveis pela organização do congresso que conta com jornalistas da região latino-americana, para além de Portugal, Espanha, Itália, Bélgica e Polónia.
A MNE colombiana não deixou de destacar um caso ocorrido consigo própria, na semana passada, em Madrid, quando após inaugurar o maior consulado espanhol no mundo e se ter reunido com o MNE espanhol, a foto que correu nas redes sociais foi a que lhe foi tirada à saída de uma loja na capital espanhola, com o título: “Ministra Sarabia foi às comprar a Madrid.”
Neste cenário em que a desinformação está disseminada, a inteligência artificial apresenta-se como “um desafio incontornável. A sua irrupção na produção e distribuição de notícias é uma revolução com enormes vantagens, como a otimização de processos e o acesso mais eficiente a dados”, afirma Yago Lopez.
No entanto, acrescentou, “não podemos ignorar os riscos: a disseminação de notícias falsas geradas automaticamente, a ameaça à autoria e originalidade do jornalismo e a possível erosão da confiança do público na informação”.
“Vir ao paraíso é uma delícia, ainda para mais com companheiros que são referência do jornalismo europeu, latino-americano e mundial”, afirmou o galego Alberto Barciela, diretor do congresso, #VIIIEditoresCELACUE, que decorre até ao final desta quarta-feira em Cartagena das Índias.