Xi Jinping garante que China e Rússia concordam com "solução política" para guerra na Ucrânia
O líder chinês afirma ainda que os dois países consideram "extremamente urgente" encontrar uma solução para a situação na Palestina
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Xi Jinping garantiu, esta quinta-feira, que a Rússia e a China concordaram com a necessidade de uma “solução política” para o conflito na Ucrânia. A afirmação foi feita numa conferência de imprensa em Pequim depois de ter recebido Vladimir Putin.
“Ambas as partes concordam que uma solução política para a crise na Ucrânia é a direção correta”, afirmou o Presidente chinês.
O líder chinês explicou que a posição da China sobre a guerra, criticada no Ocidente pela sua ambiguidade, é "consistente e clara". O gigante asiático, que não condenou a invasão, negou repetidamente nos últimos meses ter laços militares com a Rússia, mas apelou à realização de uma conferência "reconhecida por todas as partes" para retomar o diálogo.
Em fevereiro de 2022, pouco antes do início da guerra na Ucrânia, Xi e Putin proclamaram em Pequim uma "amizade sem limites" entre as suas nações.
O primeiro ponto do plano de paz chinês destacou a importância de "respeitar a soberania de todos os países", numa referência à Ucrânia. "O Direito internacional, universalmente reconhecido, incluindo os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, deve ser rigorosamente observado", lê-se na proposta.
Mas o Governo chinês apelou ainda ao fim da "mentalidade da Guerra Fria" - um termo frequentemente usado por Pequim para criticar a política externa dos Estados Unidos.
"A segurança de uma região não deve ser alcançada através do fortalecimento ou expansão de blocos militares", lê-se no documento, numa crítica implícita ao alargamento da NATO. "Os legítimos interesses e preocupações de segurança de todos os países devem ser levados a sério e tratados adequadamente".
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que as negociações devem incluir a restauração da integridade territorial da Ucrânia, a retirada das tropas russas, a libertação de todos os prisioneiros, a criação de um tribunal para julgar os responsáveis pela agressão e garantias de segurança para a Ucrânia.
Numa declaração conjunta aos órgãos chineses e russos, após uma reunião em Pequim, Xi disse que ainda que a China e a Rússia consideram "extremamente urgente" encontrar uma solução para a situação na Palestina.
O Presidente chinês apelou, em nome dos dois líderes, à "aplicação das resoluções das Nações Unidas" relativamente ao conflito.
Putin agradeceu à China "as iniciativas que apresentou para resolver este problema", em referência à guerra na Ucrânia, e disse que iria discutir em pormenor a política externa com Xi, numa segunda reunião.
Nos últimos meses, o país asiático manifestou o seu apoio à "solução dos dois Estados" e os seus responsáveis realizaram numerosas reuniões com representantes de países árabes e muçulmanos para reafirmar esta posição, ao mesmo tempo que condenaram e manifestaram a sua "consternação" pelos ataques israelitas contra civis em Gaza.
Antes, em comunicado, Xi Jinping disse ao homólogo russo que a China e a Rússia vão "preservar a justiça no mundo". "Somos um bom exemplo para outras potências em termos de respeito e abertura. O desenvolvimento dos nossos laços é propício à paz, estabilidade e prosperidade na região e no mundo", afirmou Xi, durante uma reunião à porta fechada, no Grande Palácio do Povo.
"Apesar de alguns altos e baixos, as nossas relações têm vindo a fortalecer-se e resistido ao teste das transformações no cenário internacional", observou o líder chinês, segundo a nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"Vamos continuar a consolidar a nossa amizade e a defender a justiça no mundo", realçou.
Putin foi recebido com guarda de honra, salvas de canhão e o hino dos dois países tocado por uma banda militar. Os dois líderes passaram em revista a guarda de honra antes de iniciarem o encontro à porta fechada, segundo imagens transmitidas em direto pela televisão estatal chinesa CGTN.
O líder russo chegou depois das 04h00 locais (21h00 de quarta-feira, em Lisboa) para uma visita que se prolongará até sexta-feira.
A viagem ocorre após a tomada de posse de Putin para um quinto mandato e a recente viagem de Xi Jinping à Europa, onde o líder chinês enfrentou renovada pressão para persuadir o homólogo russo a pôr fim à ofensiva na Ucrânia.
Recordando que já se encontrou com Putin "mais de quarenta vezes", o líder chinês referiu que mantém com o homólogo russo uma "comunicação estreita" e que ambos partilham "orientações estratégicas" que "asseguram o desenvolvimento sólido, estável e harmonioso dos laços bilaterais".
"A relação entre China e Rússia é hoje uma relação duramente conquistada e as duas partes devem valorizá-la e promovê-la", afirmou.
Xi disse que a China está disposta a trabalhar com a Rússia "para continuar a ser um bom vizinho, bom amigo e bom parceiro".
A visita ocorre também um dia depois de o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ter anunciado em Kiev um montante adicional de dois mil milhões de dólares (1,83 mil milhões de euros) para ajudar a Ucrânia a adquirir armas e a aumentar a capacidade de produção da sua própria indústria militar.
Trata-se da segunda visita de Putin a Pequim em menos de um ano, após a sua participação no Fórum da Iniciativa Faixa e Rota, em outubro de 2023.
Para o líder chinês, a visita será uma oportunidade de mostrar que a afinidade com Putin não comprometeu a sua capacidade de manter relações com o Ocidente, especialmente depois de Washington ter pedido a Pequim que não fornecesse componentes que pudessem ser utilizados na guerra.
A China, que não condenou a invasão, negou ter laços militares com a Rússia, mas apelou à realização de uma conferência "reconhecida por todas as partes" para retomar as negociações de paz.
O comércio entre China e Rússia registou, em 2023, um crescimento homólogo de 26,3%, para 240 mil milhões de dólares (223 mil milhões de euros).
Pequim tornou-se o maior mercado para o petróleo e gás russos e uma importante fonte de importações, incluindo bens de dupla utilização civil e militar, que mantêm a máquina militar russa operacional, apesar de a China ter banido a venda de armamento ao país vizinho.
Nos últimos meses, a secretária do Tesouro e o secretário de Estado norte-americanos, Janet Yellen e Antony Blinken, visitaram a China e advertiram os dirigentes e instituições financeiras chinesas para a imposição de sanções contra todos os bancos que facilitarem pagamentos à máquina de guerra russa.
