Este sábado assinalam-se os 33 anos do massacre de Tiananmen, na China, e as autoridades de Hong Kong mobilizam-se para impedir protestos. A TSF falou com Teng Biao, um ativista chinês a viver nos EUA, que critica a repressão que se vive no país e lembra o acontecimento que marcou a sua vida.
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Na véspera do dia que marca os 33 anos do massacre na praça de Tiananmen, as autoridades chinesas mobilizam-se para evitar a concentração de manifestantes em Hong Kong, de forma a evitar a habitual vigília das velas no Victoria Park. Em 2014, quando se assinalaram 25 anos, 180 mil pessoas juntaram-se no local.
Teng Biao, ativista e defensor dos direitos humanos que vive nos Estados Unidos da América, explica à TSF que a realidade do país piora de dia para dia, desde 2013, quando o atual Presidente chinês tomou posse.
"Desde que o Xi Jinping chegou ao poder, a situação dos direitos humanos tem vindo a deteriorar-se na China e as liberdades foram retiradas em Hong Kong. Xi Jinping criou instabilidade política. Retirou os limites presidenciais da constituição e quer ser um presidente para toda a vida, um ditador", explica o chinês que é professor de Direito da Universidade de Chicago.
Teng Biao foi despedido da universidade chinesa onde lecionava, esteve preso, foi perseguido pelas autoridades e, depois de uma passagem por Hong Kong, vive nos EUA desde 2014.
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"Não estou otimista de que possa haver movimentos não-violentos nos próximos anos, porque a repressão é brutal. Mas é nesta via que muitos cidadãos chineses depositam esperanças num futuro politico. Não queremos uma revolução violenta. Queremos uma revolução pacífica. Esta é a melhor forma para a democratização da China. Acredito que os cidadãos chineses vão ter uma democracia liberal, mas não estou otimista em relação aos próximos anos", considera.
As novas tecnologias, segundo Biao, ajudaram o Governo chinês nessa repressão: "O espaço para a sociedade civil tem encolhido a pique. Alguns cidadãos chineses, incluindo defensores das liberdades, continuam a fazer ativismo (...) e arriscam bastante para dizer a verdade. Alguns deles não desistem e querem organizar protestos ou outro tipo de resistência, mas é cada vez mais difícil e cada vez menos provável. O Partido Comunista Chinês tem usado as novas tecnologias para apertar o controlo da sociedade civil."
O ativista chama-lhe "totalitarismo High Tech".
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"A big data, o reconhecimento facial, a inteligência artificial. Todas estas tecnologias têm sido usadas pelo Partido Comunista Chinês para reforçar o controlo. Por isso, os próximos anos vão ser bastante difíceis para as pessoas que tentam organizar qualquer tipo de resistência na China", reflete.
No momento em que aconteceu o massacre, Teng Biao era um adolescente e apenas se apercebeu da gravidade da situação quando já era estudante universitário e revela que isso marcou a sua vida.
"Quando fui para a Universidade, tive a oportunidade de ler alguns livros impressos na clandestinidade e percebi a verdade sobre o massacre de Tiananmen e do movimento pró-democracia. Fiquei bastante chocado e, gradualmente, percebi que tinha sido alvo de uma lavagem cerebral. Foi aí que comecei a estudar o assunto e decidi começar a promover os direitos humanos e a democracia na China. Por isso, o que aconteceu na Praça de Tiananmen, em 1989, acabou a fazer-me decidir lutar pela liberdade", conta.
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Teng Biao formou-se na Universidade de Pequim, a "número um do ranking e que tem grande tradição na promoção da democracia e dos direitos humanos na China". No entanto, "é muito arriscado para qualquer estudante universitário organizar ou participar em qualquer tipo de protesto".
"Não fiquei surpreendido com o protesto na universidade contra as restrições da Covid-19, mas, em primeiro lugar, não está relacionado com nenhuma manifestação contra sistema político ou ideologia. (...) E em segundo lugar, a tradição do Partido Comunista Chinês é retaliar contra os que organizam ou lideram esse tipo de protesto. Receio que esses estudantes da Universidade de Pequim fossem punidos se fizessem protestos políticos", lamenta o ativista chinês.
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Segundo Teng Biao, o Partido Comunista Chinês cortou as ligações entre os ativistas e os estudantes, fazendo com que os protestos sejam "sempre isolados", sem que se possam expandir, "nem influenciar a sociedade".