Obama, que nesta sexta-feira está no Porto, começa imperativo e acaba condicional. Ao longo de oito anos de mandato a ação climática do então presidente dos Estados Unidos teve resultados limitados.
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Estávamos em dezembro de 2009, as decorações de natal enchiam a capital dinamarquesa, Obama ainda não tinha um ano de mandato e foi à cimeira do clima de Copenhaga.
Irritado com a falta de entendimento Obama pegou nos chefes de estado e de governo das nações mais ricas (ver galeria de imagens) e assumiu o fracasso de uma cimeira que deveria ter sido o ponto de viragem da luta contra as alterações climáticas.
Copenhaga, com a 15ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção do Clima deveria ter definido um substituto do protocolo de Quioto mas acabou por nascer um acordo sem valor legal e sem ser obrigatório.
Obama disse então que estes resultados foram preferivéis ao "colapso completo" das negociações e no discurso perante o plenário da COP15 afirmou que "o mundo olha para nós com dúvidas sobre a nossa capacidade de termos uma acção coletiva. O acordo está na corda bamba," alertou.
Um Presidente dos Estados Unidos, descrente, assume: "Vim aqui hoje não para falar mas para agir". Daí para a frente Obama teve 10 anos para agir mas se na frente da diplomacia climática os passos foram tímidos também não se pode dizer que os 8 anos de administração democrata tenham tido grande sucesso no objetivo de redução das emissões de dióxido de carbono (CO2). Os dados da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) revelam que as emissões de CO2 desceram 3,4%.
Durante este período, os EUA apenas se destacam num índice global. Deixam de ser os campeões mundiais das emissões e a China é agora o maior poluidor mundial.
A meio do primeiro mandato de Obama surge a critica do campeão na luta contra as alterações climáticas. O antigo Vice-Presidente dos EUA e Nobel da Paz, Al Gore, escreve na revista Rolling Stone um extenso ensaio onde diz que Obama "está a falhar" e "nunca apresentou ao povo americano a magnitude da crise ambiental".
É certo que mesmo antes de ter tomado posse como Presidente, no final de 2008, Obama tenha defendido que "poucos desafios que enfrentam os Estados Unidos e o mundo são mais urgentes do que combater as alterações climáticas".
Num discurso perante os Governadores dos diferentes Estados, Obama não nega a ciência. "A ciência é indiscutível e os fatos são claros. O nível do mar sobe, o litoral encolhe, vemos secas, fome e tempestades cada vez mais fortes".
Neste inicio de funções o então Chefe de Estado norte americano anunciou investimentos para reduzir a dependência de combustíveis e criar "5 milhões de empregos verdes". Não é possível contabilizar se na verdade estes empregos foram ou não criados mas podemos aferir a capacidade instalada na produção de energia renovável nos Estados Unidos.
Em 2009. no início do mandato a capacidade eólica dos norte americanos era de 25 GW e passou para 75 GW no final do mandato. Na produção de eletricidade a partir do sol (fotovoltaica) houve um crescimentos de 2500% de 1,2 GW para 31 GW.
O crescimento das renováveis só foi uma realidade devido ao apoio de alguns Estados porque a nível Federal as Leis ambientais de Obama tiveram quase sempre a oposição do Senado.
Em junho de 2009, o Presidente ainda conseguiu que a Lei da energia limpa passasse na Câmara dos Representantes mas foi travada pelos Senadores.
Um ano depois (2010) Obama avança com apoios diretos da administração na ordem dos 2 mil milhões de euros para subsidiar a energia solar norte americana.
Já no segundo mandato, em 2013, apresenta o "Plano de Ação Climática" que lança o objetivo de reduzir 3 milhões de toneladas cúbicas de CO2 até 2030 e o compromisso de, até 2020, os organismos do Estado Federal comprarem pelo menos 20% de eletricidade produzida por fontes renováveis.
Outra iniciativa foi captar a consciência ambiental dos "tubarões" da economia norte-americana. Isso refletiu-se depois num fundo de desenvolvimento de mil milhões de dólares onde também participaram 20 investidores privados incluindo Bill Gates.
Neste sentido, num discurso na Conferência Nacional sobre a Energia Limpa, Obama afirma que este "não é um assunto político e diz respeito a Democratas e Republicanos".
No plano internacional, depois do fracasso de Copenhaga, a estratégia norte americana passa por negociações bilaterais. Em 2014, em Pequim, faz um acordo com a China e também o Japão, a Índia e o Brasil entram nas chamadas parecerias climáticas dos Estados Unidos.
Em Paris, no final de 2015, a um ano de sair da Casa Branca, Obama não esperou pelo fim da Cimeira do Clima e foi já em Washington que reagiu ao acordo global dizendo que "este entendimento representa a melhor oportunidade que temos para salvar o único planeta que possuímos".
Sempre a falar no condicional o então chefe de estado norte-americano revela que "este pode ser um ponto de viragem para o mundo".
Ele desabafa: "não vai ser fácil".
E no discurso de despedida, em janeiro de 2017, fica um recado para Donald Trump: "Negar o problema não trai apenas as gerações futuras; trai o espírito essencial deste país. O espírito de inovação e de resolução dos problemas práticos que guiaram os nossos fundadores".
Já no final do mandato, Obama lança um pacote legislativo que ia morrer à nascença, rasgado por Donald Trump. Os Estados Unidos desistem de cortar as emissões de dióxido de carbono em 80% até 2050.
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O antigo presidente dos EUA participa esta sexta-feira no Coliseu do Porto na "Climate Change Leadership", um evento fechado para debater as alterações climáticas que além de Obama conta com personalidades como o Nobel da Paz Mohan Munasinghe.