Discurso do Estado da Nação: Putin acusa Ocidente de querer destruir a Rússia e volta a ameaçar com nuclear

O Presidente russo prometeu investir em armamento mais avançado e anunciou a suspensão de um tratado de desarmamento nuclear que mantinha com os EUA.

No primeiro discurso sobre o Estado da Nação em quase dois anos, o Presidente russo, Vladimir Putin, avaliou os progressos da campanha militar na Ucrânia, definiu estratégias para a economia do país e, sobretudo, condenou o Ocidente pelo desenrolar do conflito.

Nas notas finais de um discurso de quase duas horas, Putin anunciou que decidiu suspender a participação no tratado de desarmamento nuclear New START, o único tratado nuclear em vigor entre os Estados Unidos e a Rússia.

O tratado New START, assinado em 2010 pelo então Presidente dos Estados Unidos Barack Obama e pelo antigo Presidente russo Dmitry Medvedev, limita cada país a não mais de 1.550 ogivas nucleares colocadas e 700 mísseis e bombardeiros colocados. Poucos dias antes de o tratado expirar, em fevereiro de 2021, a Rússia e os Estados Unidos concordaram em prorrogá-lo por mais cinco anos.

Segundo o presidente russo, o nível do equipamento das forças russas relativamente a armas nucleares modernas é 91% superior ao do Ocidente.

No parlamento russo, Putin começou por justificar a invasão, alegando que a Ucrânia e a NATO estavam a preparar a compra de armas nucleares, a instalar laboratórios de armas químicas junto à fronteira e a armar grupos neonazis.

O Presidente russo responsabiliza ainda o Ocidente pela escalada do conflito, em especial os Estados Unidos, que têm como "objetivo final", diz, agredir a Rússia e "ganhar dinheiro" com o conflito. "Querem acabar com com a Rússia de uma vez e para sempre."

"Foi feito tudo o que era possível para resolver este problema de uma forma pacífica. Por detrás das nossas costas, desenvolveu-se um cenário diferente (...) As promessas dos líderes ocidentais tornaram-se uma mentira."

Um ano depois desde o início da "operação especial", a Rússia não baixa os braços, assegura Vladimir Putin. Apesar de o país viver momentos "difíceis", a Rússia alcançará os seus objetivos na Ucrânia "passo a passo".

"Para garantir a segurança do nosso país, para eliminar a ameaça representada pelo regime neonazi que surgiu na Ucrânia após o golpe de 2014, foi decidido realizar uma operação militar especial. Passo a passo, cuidadosamente e sistematicamente, alcançaremos as tarefas que estamos a enfrentar."

Putin reitera que a Rússia quer "defender as suas crianças" de toda a ideologia ocidental que não seja compatível com "o livro sagrado", como o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Sobre o estado da economia, Putin admite que é preciso "resolver problemas estruturais" e "mudar a estrutura da economia" para acabar com a dependência face ao dólar. Em vez de estar dependente de importações, a Rússia vai criar produtos e tecnologia "de alta qualidade" que outros países vão querer importar. Com ajuda dos países aliados, Putin quer ainda desenvolver as relações comerciais com os mercados asiáticos.

Putin garantiu também que serão introduzidas tecnologias mais modernas na produção de armas e exortou os fabricantes de armamento a garantir a sua "produção em massa".

"Vamos introduzir ativamente tecnologias mais avançadas que garantirão o aumento do potencial qualitativo do Exército e da Marinha", afirmou o chefe do Kremlin, acrescentando que os protótipos que já existem nos vários braços das Forças Armadas "excedem os seus análogos estrangeiros".

A intervenção é feita três dias antes de ser assinalado o primeiro aniversário da ofensiva militar russa na Ucrânia, iniciada na madrugada de 24 de fevereiro de 2022.

O Kremlin não permitiu que meios de comunicação social de países considerados como "inimigos" obtivessem acreditação para fazer a cobertura mediática do discurso.

O dia escolhido para o discurso, que será transmitido por todas as televisões públicas do país, coincide com a data em que Vladimir Putin assinou o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Lugansk e de Donetsk, na região do Donbass (leste ucraniano).

Nesse mesmo dia, 21 de fevereiro de 2022, Putin ordenou a mobilização do Exército russo para "manutenção da paz" nos territórios separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, um prelúdio para o início da ofensiva militar contra a Ucrânia que aconteceria poucos dias depois.

Em setembro passado, e apesar de não ter o controlo total das regiões em causa, a Rússia anunciou a anexação de quatro regiões ucranianas - Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia -, decisão contestada e rejeitada por Kiev e pela generalidade da comunidade internacional.

Após um ano do início da ofensiva militar, levada a cabo sob o pretexto da necessidade de "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia para segurança da Rússia, Putin não atingiu o objetivo de controlar totalmente o Donbass, ainda que tenha conseguido manter um corredor terrestre que une o leste ucraniano à anexada península ucraniana da Crimeia (em 2014), através da costa do mar de Azov.

Nas últimas semanas, fontes ucranianas e ocidentais têm alertado para o início de uma nova grande ofensiva russa, cenário que tem desencadeado apelos para aumentar o fornecimento de armamento a Kiev.

Em reação à ofensiva russa, a comunidade internacional tem imposto à Rússia sanções políticas e económicas sem precedentes.

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