Greta Thunberg classifica cimeira climática como um "falhanço" e um "festival de greenwashing"
Esta tarde, Greta Thunberg subiu ao palco do protesto de Glasgow para classificar como um "falhanço" a cimeira climática que está a decorre em Glasgow, na Escócia. A ativista climática disse que a COP26 se tornou um evento de relações públicas e chamou a classe política às responsabilidades.
Corpo do artigo
Numa ação depois da marcha pelo clima, que juntou cerca de dez mil pessoas, de acordo com a ONU, a ativista sueca tomou o microfone por cerca de oito minutos. Depois de ativistas de vários países terem feito uso da palavra, Greta Thunberg disse que não é um segredo que a COP26 é um "falhanço": "Devia ser óbvio que não conseguimos resolver uma crise com os mesmos métodos que nos trouxeram aqui e cada vez mais pessoas começam a aperceber-se disso".
Greta não poupou a classe política: "Muitos se perguntam o que é preciso para as pessoas no poder acordarem. Mas sejamos claros: elas estão acordadas e sabem exatamente o que estão a fazer. Elas sabem que valores estão a sacrificar para manter os negócios como o habitual. É uma escolha dos líderes continuar a exploração das pessoas e da natureza e a destruição das condições de vida do presente e do futuro".
Frente a milhares de pessoas, a ativista classificou a cimeira não como uma conferência, mas sim como um "festival de 'greenwashing'" e uma "celebração de duas semanas do mesmo de sempre e do blá, blá, blá", disse. "As pessoas mais afetadas, das zonas mais afetadas, continuam sem ser ouvidas. E as vozes de gerações futuras estão a 'afogar-se' nas palavras e promessas vazias."
"Os factos não mentem e os nossos imperadores estão nus". Greta Thunberg defende que para haver mudanças no clima é preciso alterações na sociedade. "Para ficarmos abaixo do valor estabelecido no Acordo de Paris e assim minimizar os riscos de iniciar reações irreversíveis em cadeia para lá do controlo humano, precisamos de cortes imediatos, drásticos e anuais nas emissões para além de tudo o que o mundo já viu". A ativista explicou que como não temos as soluções tecnológicas para algo assim, "temos de mudar a nossa sociedade". E concluiu: "Este é o resultado desconfortável do falhanço repetitivo dos nossos líderes em resolver esta crise".
A COP26 tem lugar seis anos depois do Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial. Apesar dos compromissos assumidos, alguns nesta COP - como o acordo para o fim do uso do carvão - as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de Covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC. Greta pergunta também onde nos levaram as 26 conferências pelo clima. O público respondeu, gritando: "a lado nenhum".
Greta traz uma pergunta: "Para que é que estamos a lutar? Para nos salvar e ao planeta ou para manter os negócios como sempre?" Podemos dizer que queremos ambos, "mas isso não é possível. As pessoas no poder podem continuar a viver na sua bolha, cheia das suas fantasias, e continuar o crescimento eterno num planeta finito. (...) Podem continuar a ignorar as consequências da sua inação, mas a História vai julgá-los severamente", afiançou.
A ativista continuou as críticas às decisões políticas: "Não precisamos de mais promessas vazias. Não precisamos de acordos que estão cheios de lacunas e estatísticas incompletas". E Greta não deixou, também, de criticar a comunicação social, dizendo que reportam aquilo que a classe política diz que vai fazer, em vez de aquilo que realmente faz pelo clima. "Os media falham em responsabilizar as pessoas no poder pelas sua ação - e inação".
Àqueles que chamam "radicais" aos ativistas pelo clima, Greta responde que essas pessoas é que são radicais. "Lutar para salvar os sistemas que suportam a vida não é radical - de todo. Acreditar que a nossa civilização como a conhecemos pode sobreviver a um mundo 2,7 ou 3 graus celsius mais quente não só é radical, como também pura loucura".
Depois de grandes aplausos, Greta conclui: "Aqui dizemos a verdade. As pessoas no poder estão obviamente com medo da verdade. (...) Não podem ignorar o consenso científico e, acima de tudo, não nos podem ignorar a nós, as pessoas - incluindo os seus próprios filhos e filhas. (...) Estamos fartos do seu blá, blá, blá.". E terminou dizendo que "os nossos líderes não estão a liderar" e que liderar é o que as pessoas no protesto estão a fazer.
A Conferência do clima prolonga-se até 12 de novembro e amanhã, sábado, há nova marcha pelo clima, como anunciou Greta Thunberg.