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A recente queda de partes de um foguetão chinês e os frequentes lançamentos de satélites da SpaceX, do empresário Elon Musk, relançaram o debate sobre chamado lixo espacial e o perigo que ele representa.
Nos últimos meses, Musk colocou em órbita mais de mil satélites como parte do projeto Starlink. O objetivo é criar uma rede que forneça internet à Terra, a velocidades nunca antes atingidas. São objetos que se juntam a outros, muitos dos quais já não funcionam e andam à deriva em redor do planeta.
São como "um carro estacionado no meio da via, sem luzes, numa noite sem luar e com nuvens baixas. Se não soubermos que ele lá está a probabilidade de darmos uma pancada é muito grande", diz Carvalho Rodrigues.
Ouça, na íntegra, a entrevista TSF com o físico Carvalho Rodrigues
Carvalho Rodrigues dá um exemplo muito concreto, o do SIRESP, para mostrar que o lixo espacial pode comprometer o trabalho de muita gente e a investigação em áreas muito diversas. "No espaço, como não há proteção para a radiação, os componentes eletrónicos envelhecem mesmo e deixam de funcionar. Se um satélite está a funcionar, é preciso cá em baixo, e, de repente, leva com uma porca ou um parafuso a 7 quilómetros por segundo, fica todo desfeito! E lá se foi uma coisa muito útil, transformada em sucata".
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E valerá a pena gastar dinheiro para "limpar" o espaço de objetos perigosos, tendo em conta todos os "males" que atingem o mundo? O cientista sublinha que o espaço está cada vez mais privatizado e é, cada vez mais, um negócio. Exemplo disso são as viagens espaciais, um negócio de muitos milhões, que ninguém quer ver "atrapalhado" por lixo no caminho.
"Velhote, como o pai"
Algures no espaço anda também o primeiro satélite português. O PO - SAT 1 foi lançado há quase 28 anos, em 25 de setembro de 1993, a partir da Guiana Francesa. Resultou da colaboração entre várias empresas, entre elas, a Marconi e a Alcatel, e instituições universitárias, como o Instituto Superior Técnico. O projeto foi liderado pelo cientista Carvalho Rodrigues.
Ao longo de mais de uma década, o PO - SAT 1 serviu para observar a Terra e fornecer dados de telecomunicações ao serviço de empresas de vários países e até do Exército Português.
Hoje, Carvalho Rodrigues diz que o satélite português ainda "emite sinais", de vez em quando, mas "está velhote, como o pai". Daí que seja impossível contratar serviços "de uma forma sistemática". Ainda assim, o físico não vai ao ponto de o considerar "lixo espacial". "Ele é muito seguido", garante. Está a 800 quilómetros acima da Terra e todos os dias dá várias voltas ao planeta.