A BBC avança um novo recente ataque, entre uma série de ações que os militantes radicais têm realizado desde 2017 na província de Cabo Delgado. Os acontecimentos foram confirmados numa conferência de imprensa da polícia moçambicana. Os islamistas estão ligados ao autointitulado Estado Islâmico, que tem ganhado força no Sul de África.
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Mais de 50 pessoas terão sido decapitadas na aldeia de Muatide, no Norte de Moçambique, por forças extremistas islâmicas, avançam a BBC, a Aljazeera e o The Times. A TSF está a tentar confirmar o ataque.
Por enquanto não há confirmação oficial de que tenham ocorrido as decapitações, mas o bispo de Pemba assegurou à TSF que as operações armadas efetuadas por grupos radicais são constantes, tal como um registado na última semana em 11 aldeias da região. "O que temos de confirmação é que na aldeia 24 de Março mataram cerca de 20 pessoas, entre elas 15 jovens que estavam num rito de iniciação", conta Luiz Fernando Lisboa à TSF.
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O bispo Luiz Fernando Lisboa revela que as ações armadas são perpetradas por grupos que se dizem ligados aos extremistas do Estado Islâmico e arrasam tudo à sua passagem: "Destroem casas, bens públicos, matam pessoas, raptam, meninas principalmente."
"Temos casos de meninas que fugiram, mas elas são levadas e não voltam, estão lá com eles. Muitas meninas já foram raptadas." A população da zona Norte de Moçambique vive com medo constante. As pessoas "estão todas com medo, amedrontadas e perplexas com tudo o que está a acontecer". Há "gente que perdeu o marido, que perdeu os pais, pais que perderam os filhos, pessoas que viram familiares a serem decapitados... Há um trauma geral."
Durante os ataques às aldeias, algumas pessoas conseguem fugir e procuram a ajuda de familiares noutros distritos ou vão para Pemba, a capital da província de Cabo Delgado. "Aquelas que não têm para onde ir vêm para Pemba, por isso nos últimos dias chegaram mais de 12 mil pessoas e mais de 200 embarcações", acrescenta Luiz Fernando Lisboa.
O bispo relata que, além do Governo moçambicano, a igreja e várias organizações de ativistas tentam ajudar a população deslocada.
De acordo com a BBC, que cita media locais, neste mais recente ataque, islamistas terão transformado um campo de futebol de um vilarejo num "campo de execução", onde decapitaram dezenas de pessoas e violentaram os corpos. Várias pessoas também terão sido decapitadas noutra aldeia.
O jornal The Times também dá conta do ataque e descreve que várias mulheres e meninas foram desmembradas e mortas, depois de as suas casas terem sido incendiadas. Os acontecimentos foram confirmados numa conferência de imprensa da polícia moçambicana, refere ainda o jornal britânico. A cadeia televisiva Aljazeera cita também o comandante general Bernardino Rafael, que informou "Eles queimaram as casas, depois foram atrás da população que fugiu para a floresta e começaram as suas ações macabras."
A polícia, também de acordo com a televisão do Qatar, terá referido que os militantes islâmicos decapitaram e desmembraram mais de 50 pessoas ao longo de três dias. Os combatentes ligados ao ISIL (autointitulado Estado Islâmico) atacaram várias aldeias nos distritos de Miudumbe e Macomia, onde mataram civis, raptaram mulheres e crianças e incendiaram casas, ainda segundo Bernardino Rafael, acrescenta a Aljazeera.
Trata-se do último ataque de uma série de ações que os militantes têm realizado desde 2017 na província de Cabo Delgado, rica em gás natural. Duas mil pessoas foram mortas e quase 430 mil ficaram desalojadas desde que o início do conflito na província maioritariamente muçulmana.
Os militantes estão ligados ao grupo do autointitulado Estado Islâmico, que tem ganhado alguma força no Sul africano, ao explorar a pobreza e o desemprego para recrutar jovens para a luta e para firmar o domínio islâmico na área. Muitos residentes reclamam que não beneficiaram das indústrias de rubi e gás natural da província.
Violência crescente em Moçambique
O último ataque, contudo, terá sido o mais violento, reporta um correspondente da BBC, na capital de Moçambique, Maputo. Os homens armados gritaram "Allahu Akbar" ("Alá é grande"), dispararam e incendiaram casas, ao invadirem a aldeia de Nanjaba, na sexta-feira à noite. A agência de notícias estatal de Moçambique citou os sobreviventes no relato do ataque.
Duas pessoas foram decapitadas na aldeia, e várias mulheres foram sequestradas. Outro grupo de militantes realizou outro ataque brutal na aldeia de Muatide - este referido em conferência de imprensa pelas autoridades -, onde decapitou mais de 50 pessoas. Os aldeões que tentaram fugir foram capturados e levados para o campo de futebol local, onde foram decapitados e desmembrados entre sexta-feira à noite e domingo.
Observatório de conflitos fala de ataques em Moçambique e na Tanzânia nas últimas semanas
Os islamistas terão "voltado" à Tanzânia na última semana, e assumiram a responsabilidade por um ataque a três aldeias, em Mtwara, registou o observatório de conflitos, Cabo Ligado, num relatório enviado à redação da TSF. Os ataques a Michenjele e Mihambwe, e a uma terceira aldeia, que a organização não-governamental diz ser Nanyamba - todas a menos de 20 quilómetros do rio Rovuma, que faz fronteira com Nangade, um distrito de Moçambique - tiveram como resultado vários edifícios queimados e uma esquadra de polícia saqueada. O Estado Islâmico reclamou no mesmo dia a autoria dos saques, dizendo que a organização atacou três "aldeias cristãs" no sul da Tanzânia.
A 31 de outubro, o grupo radical atacou várias aldeias no distrito de Muidumbe: Magaia, Muatide, Nchinga, Miteda, 24 de Março e Muambula. Cinco civis foram decapitados e crianças foram sequestradas, em Nchinga. Em Miteda, três civis foram assassinados, e uma pessoa foi também morta em 24 de Março.
Em Namacande, os militantes radicais queimaram edifícios do governo local e entraram em confronto com as forças de segurança moçambicanas e milícias locais durante a ocupação da cidade, que durou até 1 de novembro. No primeiro dia do mês, acrescenta o observatório,, disparos foram ouvidos em Namacule. O Estado Islâmico também reivindicou os ataques de Muidumbe, divulgando um comunicado que anuncia a "ocupação" da cidade de Muidumbe e a derrota de um contingente de soldados moçambicanos.
O relatório também faz menção à última semana, em que foi registada nova ocorrência, desta vez em Pangane, no distrito de Macomia. Mais de 200 pessoas foram sequestradas em Pangane, os pais foram separados dos filhos, que foram levados para Quiterajo. O documento reporta a ocorrência de uma decapitação e menciona que os locais foram forçados a participar em momentos de oração do grupo.
Para enfrentar a onda de ataques, Moçambique já tinha pedido ajuda internacional, salientando que as tropas moçambicanas necessitam de mais treino.
Em abril, mais de 50 pessoas foram decapitadas e/ou alvejadas num ataque numa vila em Cabo Delgado, e, no início de novembro, nove pessoas já tinham sido decapitadas na mesma província.
Grupos ativistas dos direitos humanos denunciam que as forças de segurança do país também conduziram atos violentos, tais como detenções arbitrárias, tortura e homicídio, durante as operações para travar os ataques.
* Atualizado dia 13 às 09h45