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"Não se vê ninguém, apenas meia dúzia de gatos-pingados. Quando vejo duas ou três pessoas, já penso que isto é uma animação." João Pedrosa vive numa cidade fantasma, desde que o coronavírus se começou a manifestar em Wuhan, a maior cidade da província chinesa de Hubei.

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O português que decidiu ficar tem poucas opções para fintar a monotonia. À TSF, conta que, 15 dias depois, saiu de casa, para se abastecer dos mantimentos em falta. Foi ao supermercado e comprou o suficiente para mais duas semanas, mas a tarefa do quotidiano ganhou contornos excecionais, como se a cada passo estreasse ruas novas. "Havia gente no supermercado. Há controlo de temperatura à entrada, e quase todos funcionários estão vestidos com fatos completos, como os médicos que também vemos na televisão."

"Parece uma coisa surreal: tudo de luvas e máscaras e macacão"
© Imagens cedidas por João Pedrosa
"Comprei carne, comprei frutas, comprei batatas, congelados que dão para muitas refeições, comprei sumos de laranja, comprei muita coisa...", relata. A lista de compras não faz justiça ao que presenciou. "Parece uma coisa surreal: tudo de luvas e máscaras e macacão", acrescenta o português que trabalha numa empresa alemã em Wuhan.
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Ouça a conversa da jornalista Beatriz Morais Martins com João Pedrosa.
Está dentro de um filme, é o que pensa por vezes, mas a realidade mascarada de ficção lembra-lhe a sétima arte das "epidemias e dos desastres naturais". Faz conta aos números e até uma aplicação no telemóvel ajuda, mas os 908 mortos e mais 40 mil infetados não abalam o que já está decidido.
"Não me posso arrepender. A decisão está tomada."
Termina as declarações à TSF à hora do jantar. A cozinha tem sido uma distração, uma companhia para enganar as horas. O desafio agora é fazer broa, a primeira que tentou fazer ficou muito doce.