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Quase 23% dos empregados (mais de um em cada cinco) a nível mundial já sofreram violência ou assédio no trabalho, seja físico, psicológico ou sexual, indica um estudo inédito divulgado esta terça-feira pela Organização Internacional do Trabalho.
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O relatório "Experiências de violência e assédio no trabalho: uma primeira pesquisa global", o primeiro do género, resulta do trabalho conjunto da OIT, da Lloyd's Register Foundation (LRF) e da Gallup.
A nível global, 17,9% por cento dos trabalhadores e trabalhadoras afirmaram ter sofrido violência e assédio psicológicos durante a sua vida profissional, enquanto 8,5% indicaram terem sido vítimas de violência ou de assédio físico (mais homens) e 6,3% relataram ter enfrentado violência e assédio sexual (sobretudo mulheres).
Ouvida pela TSF, Carla Tavares, presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego, considera que estes números são surpreendentes e confirma que em Portugal também são muito elevados.
"O que sabemos é que as queixas nem sempre refletem a realidade. A maior parte das pessoas, quer sejam homens, quer sejam mulheres, continuam a ter algum receio e optam pelo silêncio, não reportando às autoridades competentes as situações de que são vítimas", afirma.
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Ouça as declarações de Carla Tavares à TSF
A chave para lidar com este problema, continua a ser, na opinião de Carla Tavares, o incentivo à denúncia sempre que alguém saiba de um caso.
"O ideal é que as pessoas pudessem reportar todas estas situações de que são vítimas, embora reconhecendo que há sempre uma enorme dificuldade. Esse deve ser o nosso objetivo: mais do que promover estudos para conhecer a realidade, é tentar perceber porque é que as pessoas não denunciam as situações de que são vítimas e promover essa mesma denúncia", acrescenta.
Com o "objetivo de melhorar a compreensão e consciência de um problema enraizado em complexos fatores económicos, sociais e culturais", foram entrevistadas em 2021 perto de 75.000 pessoas empregadas, com mais de 15 anos, em 121 países e territórios.
Além de dar uma ideia da dimensão do problema e das suas diferentes formas, o relatório analisa igualmente "os fatores que impedem que as pessoas falem sobre as suas experiências, nomeadamente a vergonha, culpa ou falta de confiança nas instituições, ou porque tais comportamentos inaceitáveis são considerados normais'", refere o comunicado de divulgação do estudo.
"Em todo o mundo, apenas metade das vítimas falou com outra pessoa sobre as suas experiências e muitas vezes apenas depois de terem sofrido mais do que uma forma de violência e assédio", adianta.
Considerá-lo "uma perda de tempo" e "o receio de manchar a sua reputação" foram as respostas mais comuns para justificar o silêncio.
Ainda assim, as mulheres são mais propensas a partilhar as experiências do que os homens (60,7% e 50,1% respetivamente).
O estudo revela que os trabalhadores jovens, os migrantes, bem como homens e mulheres que trabalham por conta de outrem são os grupos mais afetados.
"As mulheres jovens são duas vezes mais suscetíveis do que os homens jovens de ser vítimas de assédio e violência sexual, sendo que no caso das mulheres migrantes a probabilidade é duas vezes superior à das outras mulheres".
Mais do que três em cada cinco vítimas relatou ter sofrido violência e assédio no trabalho múltiplas vezes e, na grande maioria dos casos, o último incidente ocorreu nos últimos cinco anos.
"É doloroso saber que as pessoas são vítimas de violência e assédio no trabalho não apenas uma, mas múltiplas vezes, durante a sua vida profissional", afirma Manuela Tomei, diretora-geral adjunta para a Governança, Direitos e Diálogo da OIT, citada no comunicado.
Recolher regularmente informação sobre violência e assédio no trabalho, ampliar e atualizar mecanismos para prevenir e gerir o problema (nomeadamente através dos sistemas de inspeção e de instrumentos e programas de saúde e segurança no trabalho), aumentar a consciencialização e reforçar a capacidade das instituições "a todos os níveis de forma a prevenir, corrigir e apoiar efetivamente as pessoas" são algumas das recomendações apresentadas no relatório.
"Durante demasiado tempo, as empresas e as instituições não estavam cientes do problema ou tinham reticências em combater a violência e o assédio no local de trabalho. Estas estatísticas fornecem uma base de referência que podemos usar para alcançar os progressos necessários em relação a este problema que é uma questão de segurança", indica Andrew Rzepa, da Gallup.
* Notícia atualizada às 10h20