Corpo do artigo
Amanhã, dia 4 de Junho, será assinalado o 32º aniversário do massacre de Tiananmen. Assim ficou conhecido aquele 4 de Junho de 1989, um símbolo de um movimento de protesto bem mais abrangente. Mas se pensarmos bem, o 4 de Junho de 1989, é também o símbolo da repressão violenta pelo Partido Comunista da China, repressão essa que está hoje bem viva e robusta com o actual líder Xi Jinping. Amanhã terei nos meus pensamentos, entre outros, o vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2010, Liu Xiaobo, figura tão importante deste movimento, movimento esse que o mudou de forma indelével. O académico deu lugar ao dissidente e de uma forma tão intensa e avassaladora que ainda hoje ao reler as suas palavras fico sempre arrepiada. Apesar de já ter morrido a sua memória está bem viva através do seu exemplo e das suas palavras.
É por tudo isto e com mais protagonistas que assinalar o 4 de Junho de 1989 é um tema proibido por Beijing. A República Popular da China apagou o «incidente» (expressão oficial) da fotografia do regime e tem feito tudo para que essa fotografia não seja retocada. Um dos territórios e uma das sociedades civis que fez deste dia parte da sua essência foi Hong Kong. E, como já podem imaginar, caros ouvintes, é absolutamente proibido assinalar esta data e a China anunciou medidas muito severas para quem o faça. Tendo em conta tudo o que tem acontecido neste território...são avisos para serem levados muito a sério.
TSF\audio\2021\06\noticias\03\03_junho_2021_a_opiniao_de_raquel_vaz_pinto
A influência da China não se fica, no entanto, por territórios como Hong Kong ou países vizinhos. Basta pensarmos na nossa Europa e, em particular, na Hungria de Viktor Orban. Nesta «democracia iliberal» como Orban tão orgulhosamente a denomina há imensas lacunas liberais e democráticas que eu poderia salientar, mas porque me é muito próxima, quero olhar para a construção de um polo da Universidade chinesa de Fudan em Budapeste. O projecto tem gerado controvérsia e, desde logo, do presidente da Câmara de Budapeste, que está nos antípodas do pensamento e das práticas de Viktor Orban. Nas suas palavras «Este projecto Fudan vai contra muitos dos valores aos quais a Hungria aderiu há 30 anos». As críticas são mesmo muitas e diversas.
Mas hoje gostaria de vos trazer uma forma original de dissidência e de contestação e de como perante uma força que parece quase imparável (leia-se Orban e a China) há pequenas grandes vitórias da imaginação e do pensamento livre dos seres humanos.
Ora bem, o Presidente da Câmara de Budapeste, que tem aliás vindo a assumir um maior protagonismo na luta húngara contra Orban, avançou com esta proposta: tendo em conta que o projecto é liderado pelo governo e que, portanto, há muito que não pode contrariar porque não renomear as ruas à volta deste espaço universitário. Os nomes propostos? Rua Dalai Lama, Rua Bispo católico Xie Shiguang, Rua dos Mártires de Xinjiang e, por último, a Rua de Hong Kong Livre. Não sabemos ainda se esta proposta vai ter sucesso (e mesmo se for aprovada se vai ser possível pô-la em prática), mas tenho a certeza que neste momento se Liu Xiaobo fosse vivo estaria a sorrir.