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É a terceira vez consecutiva que aumentam as taxas de juro. São mais 75 pontos base, colocando a taxa diretora nos 2%. "Nós temos de fazer aquilo que temos de fazer", afirmou esta quinta-feira Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE). Quando a decisão passa por aqui é expectável que surta um efeito travão no consumo das famílias e das empresas. O problema é que esta espiral inflacionista não só vem do exterior como tem que ver com a carência de oferta, sobretudo, de energia, portanto estamos perante um problema difícil de gerir e controlar.
Nos últimos dias, a estratégia do BCE começou a ser contestada por vários e reputados economistas internacionais, com reflexo nas páginas da imprensa mundial. Começam a por em causa esta terapêutica, uma vez que pode intoxicar ou até matar o doente, ou seja, mais um problema difícil de gerir.
Por outro lado, e numa trajetória contrária, ao mesmo tempo que o BCE faz aumentar as taxas de juro, os governos europeus distribuem dinheiro às famílias através das suas políticas de ajudas, injectando liquidez para que os cidadãos possam continuar a consumir e não passem (ainda mais) dificuldades. Mais uma vez, há mesmo um problema difícil de gerir.
Controlar a inflação é uma dor de cabeça, é uma decisão traumática e nunca, mas nunca, se faz sem que o doente sinta padecimento, provocando sempre um abrandamento na economia. A acrescentar a esta dificuldade de equilíbrio entre decisões e seus impactos diretos, junta-se uma inevitabilidade: o BCE só tem esta arma - que nem uma bazuca é - para usar e atuar sobre o preço do dinheiro. Mesmo que se discorda da arma, é a que está disponível para a guerra. A presidente do BCE tem a expectativa de que tornando o vil metal mais caro, vai retirar (pelo menos, teoricamente) uma parte dele de circulação e logo abrandar o consumo que realimenta uma inflação galopante - este mês segundo a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE), pode tocar os 10,2%. Há mesmo um problema difícil de gerir.
Até se resolver, é o cidadão que vai pagando o que pode e o que não pode, desde a alta das taxas de juro, com o impacto que tem diretamente no crédito à habitação, até à alta de preços de alimentos, combustíveis e outros, numa tentativa de sobreviver em vez de viver. Já no último trimestre do ano, e já quase em jeito de balanço, os economistas só encontram uma ou duas respostas para resolver este imbróglio: substituir de uma vez por todas o gás russo em toda a Europa e, claro, acabar com a guerra antes que ela acabe com a carteira dos cidadãos europeus.