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A audição da CEO da TAP na Comissão Parlamentar de Inquérito revelou práticas governativas que no mínimo têm de nos incomodar a todos.
São situações de imoralidade, de negligência, de infantilidade e sobretudo de falta de respeito pelo cargo que ocupam, pelas instituições e pelo país.
Falo do comportamento hipócrita de Pedro Nuno Santos quando assina um despacho requerendo explicações da TAP sobre uma indemnização cujo próprio tinha autorizado e até validado o seu valor.
Do secretário de Estado, que está presente na reunião interna da TAP que define a resposta a dar ao despacho dos ministros das Finanças e das Infraestruturas, numa evidente necessidade de controlar a verdade, o Governo por um lado pede esclarecimentos, por outro vai controlar esses mesmos esclarecimentos.
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A dissimulação e cobardia de Medina, que depois de elogiar os resultados obtidos pela CEO da TAP, tenta forçar a sua resignação do cargo, nunca tendo a frontalidade de lhe dizer que o seu despedimento por justa causa seria anunciado em conferência de imprensa menos de 24 horas depois.
Reuniões secretas entre membros dos gabinetes ministeriais, deputados do PS e a CEO da TAP, com vista a preparar a audição desta na comissão de economia. Num claro desrespeito pela separação de poderes e pela verdade.
O CFO da TAP, nomeado pelo governo e responsável pela articulação entre a empresa e o Ministério das Finanças, que falta à verdade numa Comissão Parlamentar de Inquérito.
O alheamento da ética que define uma separação entre Estado, Partido Socialista e Governo, de um secretário de Estado que indica que se altere um voo comercial da TAP unicamente porque pensa que isso agradará o Presidente da República.
Porém se todos estes casos em separado são de uma enorme gravidade. Quando olhados em conjunto são demonstrativos da cultura que se alastrou no Governo. Uma cultura de falta ética, de falta de respeito democrático e de total desrespeito pelos portugueses.
A cultura das organizações é um dos temas mais em voga na gestão moderna. Sendo a dificuldade mais apontada para promover a sua alteração o facto de esta ser quase sempre moldada pelos exemplos e pelos incentivos dos líderes. São consequências hierárquicas, que dificilmente se alteram sem recorrer a uma mudança das chefias.
A grande pergunta que se coloca neste caso é que chefias retirar, que ministros remodelar? E a resposta é óbvia, com esta banalização do mal fazer, com esta transversalidade de uma cultura nefasta, é fácil de concluir que o responsável é só um: aquele que continua calado, o mestre das cortinas de fumo, o nosso primeiro-ministro António Costa.
