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16 de Setembro marca o início de uma nova aliança formal entre Mali, Burquina Faso e Níger, vulgo "os golpistas da CEDEAO" ou "os três golpistas do Sahel". Trata-se de uma fuga para a frente, a partir da ameaça de intervenção militar no Níger, após o golpe de 26 de Julho, por parte da CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. Estes três estão suspensos dos trabalhos e corredores da CEDEAO em Abuja, a sede na Nigéria e de todas as delegações nacionais. Este facto, um "chega p"ra lá" enquanto sansão, levantou o debate sobre a possibilidade destes três, Mali, Burquina e Níger, combatessem o isolamento criando uma CEDEAOzinha entre eles. Há continuidade territorial, partilhando a mesma hinterlândia inóspita, sem saída para o mar e sem farmácias, bem como pertencem ao G5-Sahel, moribundo desde a saída do Mali (Maio 2022), mas uma organização militar cujo fim é o combate ao terrorismo.
A Carta Liptako-Gourma confirma no seu artigo 6º que um ataque contra um dos países signatários, será considerado um ataque contra os três, obrigando-os a resposta conjunta. Uma cópia do artigo 5º da Carta do Atlântico Norte. Significa esta fuga para a frente, a morte do G5-Sahel? Muito provavelmente, caso obedeça à seguinte premissa. Servir de alavanca para a criação de um G-15 ou G-16-Sahel/Golfo da Guiné! A reforma e a abordagem devem ser transregionais, devem acompanhar as tendências jihadistas, já que não as conseguem antecipar. A tendência dos ataques toca-e-foge de jihadistas em motorizadas, junto das fronteiras Burquina/Gana, Burquina/Togo e Burquina/Benim, bem como Níger/Benim e Níger/Nigéria, indicam que estes terroristas estão a querer chegar ao mar e furar a hinterlândia. Ou se pensa no bloco Mediterrâneo/Golfo da Guiné, ou as abordagens regionais continuarão a serem remendos que permitem às rivalidades europeias expressarem-se em África. No entanto, o lado fraco desta possibilidade é ser liderado por juntas militares, que suspenderam as constituições dos seus países. Segui-los será descrédito para quem o fizer, mas a necessidade está lá!
Colocando o foco na pergunta de partida, sobre os benefícios ou não da suspensão dos estados golpistas da CEDEAO, parece agora evidente que os suspensos procuram formas de se protegerem em grupo. Isolados dos corredores das decisões, tornam-se átomos soltos, fora do controlo de quem os sancionou.
Proposta de solução para evitar a suspensão de futuros golpistas e integração dos actuais suspensos:
Ao debater este tópico no programa "Espaço A Nação", da Rádio Alfa de Cabo Verde, sob a batuta do jornalista José Mário Correia, lembrei-me do seguinte episódio, uma estória que durante um momento correu os corredores de certa direcção-geral, de certo ministério. Quando se iniciou a moda das formações e da formação de formadores, a secretária de um director-geral começou a dar formação a outras secretárias, sobre como melhor secretariar. Para a estória ficou o detalhe do bombom que acompanha o café servido ao chefe. Ou seja, habitue o seu chefe com um café sempre acompanhado de um bombom. Quando estiver zangada com ele, subtraia o bombom da equação e ele não resistirá à tentação de perguntar, "então e o bombom?!" o que lhe dará oportunidade para expressar os mais altos protestos da sua razão.
A proposta para a CEDEAO aqui fica. Não suspendam os estados golpistas, subtraiam-lhes os bombons quando surgir o "coffee break", que eles não resistirão em quebrarem o gelo e falarem convosco. Em vez de ameaçarem com intervenção militar, como no caso do Níger (Agosto 2023), joguem com o bombom, proponham-lhes restaurarem a autoridade do Presidente, por exemplo e em troca voltam a ter bombons a acompanhar a bica!
A Acontecer / A Acompanhar
- Todos os domingos, na Telefonia da Amadora, entre as 21h e as 22h, Programa "Um certo Oriente", apresentado pelo Arabista António José, um espaço onde se misturam ritmos, sons e palavras, através das suas mais variadas expressões, pelos roteiros do Médio Oriente e Ásia.
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia