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«A segurança é como o oxigénio: não lhe damos a devida atenção até que começamos a sentir a sua falta.»
Esta frase do reputado académico Joseph Nye capta na perfeição o modo como olhamos para este 2020. Tem sido uma caminhada difícil e sem um fim à vista. Se eu tivesse de escolher uma palavra para descrever este longo ano seria, certamente, "vulnerabilidade". Sentimo-nos mais vulneráveis face a uma pandemia que não poupou ninguém e que nos obriga a olhar para 2021 com prudência.
No entanto, também temos esperança. Foi possível chegar a uma vacina ainda neste ano e esse é um feito extraordinário. Recentemente, Bruxelas aprovou a vacina da empresa alemã BioNTech (em parceria com a Pfizer) e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen não escondeu o seu entusiasmo e «orgulho» neste avanço, que considerou «uma história de sucesso europeu.»
Quando pensamos em Estratégia raramente incluímos como um factor de poder a Ciência. As fontes de poder mais óbvias passam pela força militar e/ou pela robustez económica. A Alemanha é disso um exemplo, pois não são as suas forças armadas que a tornam o pais incontornável da Europa, mas sim a sua economia.
Mas, se pensarmos bem no alcance da investigação científica, e tendo em conta a pandemia que estamos a viver, torna-se evidente que há um papel crucial da Ciência na segurança e na defesa dos estados. Uma das vozes mais activas nesta matéria tem sido Carlos Moedas, anterior Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. O seu artigo intitulado «Science Diplomacy in the European Union» vale bem a pena ler.
A evolução dos EUA e a sua supremacia internacional a partir da segunda metade do século XX não podem ser compreendidas na plenitude se não incluirmos o investimento público na investigação. Ser capaz de atrair os «cérebros» do mundo é um factor de poder, na verdade, aquilo que Joseph Nye denomina de «soft power» cuja essência é a «atracção».
Tornar a União Europeia mais «atractiva» e mais poderosa cientificamente neste sentido é, do ponto de vista estratégico, benéfico para os cidadãos europeus. E, como bem resumiu Carlos Moedas, a «diplomacia científica é uma extensão natural dos valores europeus.»
*A autora não segue as regras do novo acordo ortográfico