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Nos tempos em que o líder tinha dez pontos de avanço sobre o segundo, o Braga - Sporting que se segue era olhado apenas como um passo, porventura definitivo, para encurtar a história deste campeonato. Agora já não é assim. Para os leões é um desafio essencial para definir o seu futuro.
Ao desbaratar meia dúzia de pontos em apenas quatro jogos - e mesmo o triunfo em Faro foi conquistado sobre brasas - os jogadores de Ruben Amorim estão a acusar claramente a pressão de não poderem falhar um título que lhes foge há quase duas décadas.
A juventude da equipa pode ser um argumento, é verdade, mas convenhamos que foram dois dos mais experientes, João Mário e Adán, a ficarem intimamente ligados ao empate com o Belenenses SAD. A questão, portanto, não é assim tão linear e estará ligada a um somatório de fatores, incluindo, por exemplo, a forma como a articulação de Paulinho no contexto global da equipa está a ser desenvolvida pelo técnico.
O Sporting que, não esqueçamos, continua imbatível ao cabo de 28 jornadas, passou grande parte do campeonato com um grau de eficácia notório e uma solidez defensiva à altura das exigências. Mas, sobretudo, com a mente liberta da obrigatoriedade de ser campeão, um "luxo" que FC Porto e Benfica não podiam ter por razões óbvias.
Simplesmente, o que foi uma vantagem emocional transformou-se num fantasma a partir do momento em que a classificação não deixava mais margem para evitar alusões ao título.
Como já se viu, os diferentes adversários dos leões podem ser todos eles problemáticos se não houver a cabeça fria suficiente para evitar erros fatais. Embora, claro, Braga e - mais adiante - a Luz sejam os dois maiores obstáculos que o Sporting terá de enfrentar nesta caminhada para conservar o primeiro lugar.
Então, Braga. Os arsenalistas ainda sonham com uma terceira posição e essa possibilidade não pode ficar apenas dependente daquilo que o Benfica (não) fizer. Carvalhal também tem de traçar o seu rumo e isso passa por ganhar. Este confronto com o Sporting é o momento em que é posto à prova para se saber para que lado cai.
Por tudo isto, a cimeira do Minho constitui um dos pontos marcantes deste campeonato. Ambas as equipas têm uma necessidade absoluta de vencer, ainda que por razões distintas. Vamos ver o que prevalece: se a capacidade de Ruben Amorim saber gerir mentalmente uma equipa sob tensão ou a gestão cirúrgica de Carlos Carvalhal.
Vigilante continua o FC Porto. O que parecia somente um desejo pouco plausível de se concretizar há umas semanas é hoje uma possibilidade real. Chegar ao topo deixou de ser uma utopia. Ainda está na dependência do Sporting - quatro pontos que os dragões precisam que a formação leonina perca -, mas o facto é que o FC Porto está a aguentar melhor esta fase decisiva da competição.
Certo que não tem tido grande brilhantismo, mas, como referi várias vezes, nesta altura o proveito está acima do espetáculo. De resto, nenhuma equipa está verdadeiramente a encantar e nem creio que essa seja uma real preocupação de qualquer uma delas.
Somar três pontos, mesmo com dificuldade, é preferível a deslumbramentos inconsequentes num período de densidade competitiva que vai continuar nas semanas que aí vêm. É nisto que o FC Porto deve focar-se em Moreira de Cónegos. Não será simples, como não foi com o Vitória de Guimarães, mas se o desfecho for semelhante a missão está cumprida.
Tal como os dragões acreditam no primeiro lugar, o Benfica acredita no segundo, simplesmente as águias têm um atraso para o FC Porto superior à vantagem sobre o Braga. Daí que o duelo na Pedreira também entre na contabilidade dos encarnados no caso de os minhotos não ganharem. Jorge Jesus percebe que antes de tudo é necessário consolidar o terceiro posto e, se der (leia-se, se o FC Porto escorregar algures), procurar então algo mais.
Em Portimão voltámos a ver uma águia com uma melhor definição no momento da verdade, tal como tinha sucedido em Paços de Ferreira. Frente ao Santa Clara, Jorge Jesus vai precisar "deste" Benfica e não do "outro", o tal que colapsou com o Gil Vicente em plena Luz.
Uma coisa é certa: repetir com os açorianos o fiasco gilista significa o desmoronar da ideia da entrada direta na Champions e, eventualmente, o soar do alarme quanto ao terceiro lugar (consoante o que suceder na véspera no Minho). Assim, ou Jesus segura os equilíbrios que a equipa já teve ou coloca-se a jeito...
PS: A aberrante Superliga esfumou-se num ápice, mas não se iludam. Não foi exatamente uma vitória do futebol, mas sim uma estrondosa derrota da ganância pura e dura. São coisas diferentes. O monstro das doze cabeças limitou-se a puxar a passadeira que a UEFA, diligentemente, lhe tinha estendido...