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Dizem que todos os jogos são igualmente importantes independentemente dos protagonistas. Só que, como em tudo, há alguns mais iguais do que outros. Especialmente quando estão em causa uns largos milhões de euros. É o caso do Braga - Benfica.
Mantenho: enquanto o Sporting continuar a defender bem a vantagem de que dispõe sobre a concorrência, restam a FC Porto, Braga e Benfica a luta por um segundo lugar de acesso direto à Champions e por um terceiro que dependerá sempre da incerteza de uma pré-eliminatória e de um play-off. Três candidatos para duas vagas (uma melhor do que a outra), no que constitui o principal polo de animação até ao final do campeonato.
Aliás, este desafio no Minho é o primeiro de uma série que influenciará o caminho de cada um dos interessados. Virão depois Braga - Sporting, Benfica - FC Porto e Benfica - Sporting. É certo que não serão unicamente os encontros entre os quatro da frente a ditar as sentenças, como se viu na ronda anterior em que o Braga derrapou no terreno do (então) último classificado.
No entanto, este cara a cara assume uma dupla dimensão: não é apenas aquilo que um pode ganhar, é também o que faz o outro perder. Logo, não é descabido afirmar que o Benfica tem bastante mais em risco e as razões são simples de perceber.
As águias, devido ao inédito investimento feito esta época - em contraciclo com o rumo adotado por quase todos os maiores clubes europeus -, assumiram-se como candidatas ao título desde a primeira hora. Os minhotos não. O Benfica precisa desesperadamente de regressar à Liga dos Campeões, pois dois anos consecutivos de ausência deixá-lo-ia numa posição muito complicada para o futuro próximo. O Braga não. Na verdade, tudo o que o colocar acima do quarto lugar será sempre ganho.
Assim, Jorge Jesus sabe muito bem o que está em causa nesta partida. O único resultado que lhe serve é o triunfo para ultrapassar um adversário direto e reforçar a tendência registada nos recentes jogos em que os sinais de melhoria estão a notar-se.
Daí que a maior curiosidade resida em saber se o Benfica vai optar por três centrais (juntando Vertonghen a Otamendi e Veríssimo) ou se mantém inalterável o quarteto que tem funcionado e sem sofrer
golos. Das poucas vezes em que optou por três centrais as coisas não lhe correram bem (Braga, Sporting e Arsenal). Mas só o técnico terá a noção exata de qual a solução recomendável neste contexto. Ou daquela em que acredita mais.
Por seu lado, Carlos Carvalhal também sabe que esta é uma oportunidade de luxo para cimentar um desejo, por muito que não o assuma: garantir um lugar na Liga dos Campeões. O treinador dos arsenalistas tem aqui a possibilidade de deixar mais longe precisamente a equipa que o persegue. Ou, no mínimo, mantê-la a dois pontos, o que também serviria os seus interesses.
Carvalhal voltará a confiar no coletivo, embora peças como Al Musrati, Fransérgio, Galeno e Piazón possam vir a ser determinantes na dinâmica pretendida, não esquecendo os contributos de um Abel Ruiz claramente em afirmação na era pós-Paulinho.
Falta saber, apenas, que face do Braga aparecerá frente ao Benfica. Nas recentes duas partidas tivemos uma vibrante frente ao Vitória e, depois, uma outra vazia de ideias com o Famalicão. Se a equipa interiorizar o que representa defrontar o Benfica, como já sucedeu duas vezes esta época, será a primeira; se não o fizer é fácil de perceber no que pode dar...
Mas antes do prato-forte na Pedreira é a vez de entrarem em ação Sporting e FC Porto. O líder recebe o Vitória e mesmo sem Coates e Nuno Santos, mas com o previsível regresso de Paulinho, os leões têm unicamente de cumprir o papel que lhes está atribuído nesta altura: somar os três pontos da ordem e aproveitar o resto.
E por "o resto" entenda-se a luta entre os que também querem entrar na Champions, algo que já beneficiou a equipa de Ruben Amorim. Há uma semana tinha nove pontos de vantagem sobre o anterior segundo (Braga), agora tem dez sobre o atual segundo (FC Porto). Sendo que, caso derrotem os vimaranenses, podem capitalizar mais qualquer coisa face ao jogo de Braga.
Depois há o FC Porto que recuperou a posição na tabela que encaixa nas suas pretensões financeiras. A ida a Portimão não será uma missão simples, mas este dragão de Sérgio Conceição é favorito, sabe-o e tem de agir como tal. Até porque o argumento da eventual capitalização aplicável ao Sporting é idêntico para o FC Porto.
Por outro lado, os dragões vão precisar de gerir com grande sapiência o ciclo que sucede às seleções. Ao invés de todos os outros têm a sequela Champions, com dois jogos perante o Chelsea, o que obrigará Conceição a uma atenta gestão dos recursos com tudo o que isso implica. Portanto, vencer o Portimonense é também uma forma de acautelar o que se segue.