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A Freedom House, organização dedicada à promoção dos direitos políticos e liberdades civis, publicou o seu último relatório sobre o estado da Liberdade no Mundo. Este relatório, que é publicado desde 1973, confirma as preocupações sobre a robustez da democracia no mundo. Desde logo, ficamos a saber que a tendência de diminuição de países e territórios democráticos, que se verifica desde 2006, foi reforçada. Em números, foram considerados 82 livres, 59 parcialmente livres e 54 autoritários. Esta fotografia por si só já dá muito que pensar. A pandemia foi, sem dúvida, um factor e, de facto, vivemos tempos difíceis, desgastantes e em que algumas das nossas liberdades estão limitadas. Mas, está longe de ser a razão que tudo explica.
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O relatório destaca os EUA e aquele que foi o último ano da Administração Trump. Sem dúvida que há muito para consertar neste país e que o último ano foi particularmente penoso culminando naquelas imagens do dia 6 de Janeiro. Mas, tendo em consideração a eleição de Joe Biden eu diria que temos um polo de moderação e civilidade na Casa Branca. A polarização na política e na sociedade norte-americanas irão continuar, mas já sem a participação activa da Casa Branca nesse processo. Outro país que é destaque pela negativa é a Índia, que passou a ser classificada como parcialmente livre. É um sinal importante sobre a evolução política deste segundo mandato de Narendra Modi.
A Freedom House assinala os protestos que tiveram lugar um pouco por todo o mundo, desde o Quirguistão à Bielorússia, passando por Hong Kong, e também os conflitos internos, tais como o que está a acontecer na Etiópia ou combate entre a Arménia e o Azerbaijão sobre Nagorno-Karabakh. Mas, há uma realidade que temos de realçar: a «influência maligna do regime na China». A China, de forma muito mais organizada que outras ditaduras, tem promovido a sua presença além-fronteiras e, em especial, a sua propaganda através de media tais como televisões e nas redes sociais. Uma das recomendações deste relatório visa justamente a exigência de «maior transparência para os meios de propaganda detidos por estados estrangeiros a operarem em estados democráticos.» Esta é uma linha da frente cada vez mais importante.
Por último, um país europeu: a Hungria. Soubemos ontem que o Fidesz, ou seja, o Partido de Viktor Orbán, retirou a sua presença no Partido Popular Europeu. Orbán foi um dos líderes que aproveitou a pandemia para estender o seu controlo da sociedade húngara. Para os democratas-cristãos no Parlamento Europeu, a saída do partido húngaro só pode ser acompanhada de «boa viagem!». No entanto, para a sociedade civil húngara, é mais um sinal triste a caminho da ditadura plena.
*A autora não segue o novo acordo ortográfico