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Em questões económicas, quando as coisas não vão de vento em popa, os realistas começam por ser velhos do Restelo, passam depois a ser pessimistas e acabam, finalmente, como profetas do mau agoiro, quando as previsões que faziam se confirmam. Ninguém quer ouvir quem, com a devida antecedência, antecipa cenários de crise, avisa para o que está a chegar, pede a todos os outros que se preparem para uma descida vertiginosa.
Ouvi um dia Ângela Merkel dizer, numa visita a Portugal, - e passo a citá-la como me recordo de ter ouvido - que a economia era 50% trabalho e 50% otimismo. Talvez o trabalho dos otimistas seja apenas esse, o de esperar que tudo corra bem. É um trabalho fácil, já que nos ciclos económicos há um tempo em que tudo corre bem, tão bem que depois é preciso ajustar para encontrar o que de real existe na economia. A tal riqueza que resulta do trabalho.
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Eu não sou formado em economia, mas ninguém precisa de ser para entender que se há dinheiro a mais a circular em relação ao que somos capazes de produzir, se aumenta a procura sem haver aumento da oferta, os preços sobem. Sabemos todos igualmente que a isso se chama inflação e que ela corresponde a um corte de rendimento.
Os otimistas, que repetiram à exaustão que esta inflação era temporária, apenas porque não sabiam o que fazer sem causar uma retração na economia, acabaram por nos fazer perder tempo a todos e, agora, o mais provável é que tudo isto acabe com o já determinado corte de rendimentos que resulta da inflação, mais uma recessão provocada pelo atraso com que os bancos centrais chegam a este combate para resolver um problema que eles em grande parte provocaram.
Esta mania de despejar dinheiro sobre os problemas deu para o torto em 2009 e tem tudo para dar asneira outra vez. Claro que é sempre mais difícil para países que nunca resolvem as dívidas. Em 2011, quando chamamos a Troika, a nossa dívida em valor absoluto rondava os 200 mil milhões de euros, agora anda pelos 280 mil milhões. A coisa parece menos grave quando comparamos em percentagem do PIB, mas são só aparências.