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Até parece mentira, mas já estamos no final de Maio e por isso mesmo também no final de mais uma época de futebol. No próximo Sábado, dia 29 de Maio, duas equipas jogarão a final da Liga dos Campeões: o Chelsea e o Manchester City. À primeira vista o elemento comum destas equipas é o facto de serem ambas inglesas. Mas se pensarmos bem há muitas, mas mesmo muitas semelhanças.
Quer uma quer outra devem os seus recursos ao mundo da energia - o petróleo e o gás natural - respectivamente do russo Abramovich e de Mansour bin Zayed Al Nahyan de Abu Dhabi, um dos sete Emiratos Árabes Unidos. Aliás o pioneiro em termos de investimentos deste mundo da energia no futebol foi claramente o russo Roman Abramovich quando comprou o Chelsea em 2003.
Esta riqueza energética permite a estes clubes terem orçamentos milionários e equipas recheadas de talento e de muita, muita qualidade. Os recursos financeiros são tantos que mesmo cumprindo as regras de fair-play financeiro da UEFA, muitos olham para esta riqueza como fonte de desigualdade. Aliás esta questão em relação ao City vem de vez em quando ao de cima. Muitas vezes e em momentos críticos das épocas é a capacidade de ter uma segunda e terceira linhas de jogadores com qualidade que faz a diferença nas competições face ao número crescente de jogos, a sua intensidade e ao inevitável cansaço físico e em alguns casos as lesões.
Mas, voltando ao mundo estas equipas são um exemplo de como países como a Rússia e os Emiratos Árabes Unidos, nos quais a democracia e os direitos humanos não fazem parte do quotidiano das preocupações dos seus líderes, conseguem expandir a sua influência a nível internacional. No último relatório da Freedom House referente ao ano passado estes dois países foram considerados como não livres, ou seja, ditaduras.
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Nesta matéria e entre os dois casos, talvez Abu Dhabi seja o mais relevante tendo em conta que ao contrário da Rússia, herdeira de uma história antiga e imperial, não há arsenal nuclear ou estatuto de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU. Tal como o Qatar, Abu Dhabi tem diversificado a sua economia e, em paralelo, tem desenvolvido a chamada «ofensiva do charme». Este é um conceito importante. Mas, cada vez mais e agora com a maior visibilidade da Arábia Saudita em matéria de organização de eventos desportivos, o que estamos a assistir é à afirmação de outro conceito o chamado "sportswashing". Dito assim parece inofensivo, mas a sua definição não é nada elegante: «lavar a imagem negativa de direitos humanos através do desporto».
Não quero de todo com esta análise retirar qualquer mérito desportivo às equipas, aos seus treinadores e aos seus jogadores. Eu que gosto tanto de futebol admiro profundamente um treinador como Pep Guardiola e o talento de jogadores como Bernardo Silva, Kevin de Bruyne, Mason Mount ou N"Golo Kanté, entre tantos, tantos outros. Mas se fizermos este raciocínio mais político a pergunta que temos de fazer no próximo sábado é esta: quem é que será o verdadeiro vencedor? A Rússia ou Abu Dhabi?