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Esta é uma semana que, infelizmente, fica mais uma vez marcada pela guerra, pelo Orçamento de Estado, em especial pelo injusto aumento do IUC, mas também pela entrevista de Fernando Araújo, o famoso CEO do SNS.
Fernando Araújo, nessa entrevista, diz-nos que, se o Governo não chegar a acordo com os sindicatos dos médicos, novembro vai ser o pior mês nos 44 anos de história do SNS. E que o SNS estará a regredir 20 anos, pondo em causa a própria vida das pessoas.
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Estas declarações são obviamente geradoras de muita preocupação, mais ainda quando vêm de alguém com tanta proximidade ao governo.
E se, à primeira vista, estas declarações parecem de uma grande humildade, e até desespero, contêm em si uma clara hipocrisia.
É que, se esta preocupação com o estado a que o SNS chegou é mais que legítima, é, também, claro que o Governo de António Costa está muito longe de estar isento de culpas neste cartório.
Não pode ser atribuído aos médicos o ónus de um novembro negro para o SNS, quando, há muitos meses, assistimos à falta de capacidade do governo para dialogar, para negociar com estes profissionais.
Não se pode tentar virar a opinião pública contra os médicos, quando governo está há muito imerso numa total inércia. A própria direção executiva do SNS - aquele organismo que foi apresentado como o remédio miraculoso para todos os problemas da Saúde em Portugal -, presidida por Fernando Araújo, demorou mais de um ano a ver os seus regulamentos aprovados.
A degradação do SNS não apareceu em outubro. A falta de médicos, também não apareceu este mês. É um assunto que se arrasta há tempo demais. Um assunto que o governo tem "empurrado com a barriga", fazendo juras de amor ao SNS, enquanto empurra os doentes para a única solução viável: o privado.
Mas quando o estado do SNS atinge um ponto de tal forma crítico, em que só com o favor da classe médica, o SNS não entrará em total rutura, é que a verdade é por todos assumida. E questionemo-nos: quanta hipocrisia haverá nesta verdade?
