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Da notícia de António Cerejo, no Público, a 26 de outubro, à demissão de Miguel Alves, a 10 de novembro, passaram-se duas semanas e uma entrevista ao Jornal de Notícias e à TSF em que o ex-autarca e ex-governante se apresentou como vítima de um complô de uma corte mediática, sediada em Lisboa, apostada em fazer mal a Caminha.
Miguel Alves não caiu por ter feito um truque para ultrapassar os níveis de endividamento permitidos por lei, como chama hoje à atenção o diretor do Expresso, mas pode ter contribuído a notícia de ontem, do mesmo jornal, de que o Presidente da República tinha, finalmente, resolvido entrar no jogo e pretendendo questionar o primeiro-ministro sobre a manutenção no governo de alguém com tantas fragilidades políticas.
O que é certo é que a notícia do Observador, que dava conta da acusação do Ministério Público na Operação Teia, acabou por ser o empurrão final para uma queda que se adivinhava inevitável. O mesmo jornal já tinha recordado que, para além do inusitado caso do pavilhão transfronteiriço, Miguel Alves era arguido em dois casos relacionados com a gestão autárquica.
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Este recordar das noticias que acabaram por ter um peso determinante na saída do secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro não é exaustiva e outros órgãos de comunicação social trabalharam para esclarecer o que havia para ser esclarecido. O escrutínio do poder é sempre mais completo quando os jornalistas entram em jogo. Não chega ter oposição, polícia de investigação, procuradoria e tribunais, o jornalismo competente e livre é essencial para que a Democracia triunfe.
A cada caso em que o contributo da comunicação social foi imprescindível para lembrar que o poder é exercido em nome do povo e que o povo merece todo o respeito, precisamos de lembrar a toda a gente a importância do jornalismo. Não são as redes sociais que informam, a internet não é uma fonte de informação, é apenas um suporte onde se coloca o que é bom e o que é mau, o que é verdade e o que é mentira, o que é genuíno e o que é pura manipulação.
Não desista do jornalismo, que os jornalistas também não desistem de si.