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Tal como outros chefes de Estado já falaram em sessões especiais no Parlamento - e a decisão de as realizar ou não é, aliás, uma decisão apenas e só da casa da democracia -, os portugueses, certamente, não vão ver com maus olhos que Lula da Silva seja orador no hemiciclo.
Portugal é um país aberto ao mundo, com uma relação umbilical com Terras de Vera Cruz, e que, no último ano, recebeu do Brasil o maior número de imigrantes: mais 28 444 tornando-se a maior comunidade estrangeira, com 233 138 naturais em Portugal.
Já a hipótese que chegou a ser veiculada de Lula da Silva ser orador na sessão solene que assinala a liberdade da democracia portuguesa , através das comemorações do 25 de Abril, seria excessiva e desenquadrada.
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No momento em que as nossas instituições e os poderes simbólicos nada valerem, estaremos mal enquanto democracia. Ou, por outras palavras mais simples, cada coisa no seu lugar e a seu tempo.
A celebração do 25 de Abril de 1974 é um momento sempre especial e que assinala a saída da ditadura para um caminho de liberdade democrática.
O bom senso, finalmente, imperou. O que tinha sido apresentado como um discurso do Presidente Lula da Silva na sessão solene parlamentar de comemoração do 25 de Abril, afinal já passou a ser apenas um momento autónomo, ou seja, uma sessão de boas-vindas na Assembleia da República para o chefe de Estado do Brasil.
Ainda que Lula tenha conseguido afastar também um ditador, como era o caso de Jair Bolsonaro, trata-se de uma realidade totalmente distinta e com contornos políticos e de justiça complexos e sem quaisquer semelhanças com o que foi a Revolução dos Cravos.
Por cá, no próximo mês a sessão solene deve ser de e para os portugueses e nunca é demais lembrar que a cada esquina há uma ameaça à liberdade que espreita. Saibamos recordar o dia ímpar da História portuguesa, honrar os capitães de Abril e zelar pela manutenção da liberdade democrática.