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A liberdade de expressão ganhou mais um defensor, a propósito de uns quantos cartazes xenófobos. Não fosse a mesma pessoa que soletra o nome de um ditador elevado ao cubo como solução para resolver os problemas do país, e até seria motivo para elogios.
Como quase todos os saudosos da ditadura, provavelmente porque não sentirem na pele o Portugal atrasado e amordaçado, também este tem a particularidade de transformar o conceito de liberdade em função de interesses próprios e ocasionais. Devia ter outro comportamento e responsabilidade, atendendo a que tem assento como deputado na Assembleia da República porque o voto livre dos eleitores lhe oferece esse privilégio.
É evidente que a democracia tem os seus problemas. Desde logo, o risco de nem todos os eleitos saberem respeitar a sua casa, a Assembleia da República, adotando comportamentos desviantes que apenas contribuem para descredibilizar o sistema. Basta assistir a uma sessão parlamentar tão importante como a discussão do Orçamento do Estado para se perceber que rapidamente a troca de opiniões se transforma numa conversa comparável à troca de argumentos entre adeptos ferrenhos de clubes de futebol. Nada contra o futebol.
O problema é que o Parlamento serve para legislar e discutir questões sérias, pelo que esta postura, além de lamentável, pode tornar-se insustentável também. Esta estratégia tem, no limite mais profundo, um objetivo já testado noutras latitudes: descredibilizar as instituições aos olhos dos eleitores. Compete aos políticos e aos partidos decentes, que respeitam a Constituição, os órgãos de soberania e o país, deixar os inimigos da democracia a falar sozinhos, porque por esta altura sabemos muito bem quem são. Estão muito bem identificados.
Antes, ainda podíamos ter dúvidas, mas depois de proclamado e não negado três vezes o nome do ditador que enterrou os portugueses nas trevas durante quatro décadas, tudo isto em plena Assembleia da República, é preciso que o bloqueio sanitário funcione. Não está a acontecer, como se vê pela maioria constituída para a aprovação da Lei da Nacionalidade.
