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Estamos no fim deste ano e hoje trago-vos a minha escolha da figura, da personalidade que mais me marcou em 2021.
No ano passado, lembro-me bem, escolhi Li Wenliang.
Li foi o médico chinês que alertou os seus concidadãos e o mundo para o que estava a acontecer na China tendo sido, aliás, uma das muitas vítimas desta pandemia. Na altura escrevi como «perante uma emergência de saúde publica Li Wenliang enfrentou o dilema de ter de escolher entre ser um «bom cidadão» ou ser médico.» A sua coragem e a verdade das suas acções não serão esquecidas.
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Olhando para o mundo temos vários candidatos a figura do ano de 2021. Desde logo, dois à cabeça por razões diferentes: a saída de Angela Merkel, uma líder na teoria e na práctica durante cerca de uma década e meia, e no sentido inverso à saída da Chanceler alemã, o reforço de Xi Jinping ao leme da República Popular da China. Vamos ver ao longo do próximo ano como vai ser o seu percurso até ao grande Congresso - o 20º - do Partido Comunista da China.
Nesta geografia do mundo também pensei numa líder que muito admiro: a taiwanesa Tsai Ing-wen. Lembrei-me igualmente de outra pioneira: a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala e actual directora-geral da Organização Mundial do Comércio. Pensei ainda nos vencedores do Prémio Nobel para a Paz, o russo Dmitry Muratov e a filipina Maria Ressa, e do Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, outro russo, Alexei Navalny.
Mas, na verdade, mesmo perante um conjunto de escolhas tão distinto e merecido acabava sempre nas mulheres do Afeganistão. No seguimento da retirada calamitosa dos EUA partilhei convosco a minha preocupação sobre «Quanto tempo vai durar esta nossa atenção? Mesmo sabendo das violações de direitos humanos dos Talibãs quando é que o Afeganistão deixará de estar no nosso radar?»
Muitas vezes dou por mim a pensar naquelas meninas e naquelas mulheres que não conseguiram fugir, aquelas que vivem nas cidades e que estavam habituadas a ir à escola, à universidade, a escolher, a pensar, a ler, a querer saber mais do mundo porque é simplesmente um prazer aprender, a dançar e a cantar, a praticar desporto, a rir e a serem livres.
Como é que será o dia-a-dia destas meninas e destas mulheres que sonharam que desta vez ia ser diferente? Como é que será o sentimento, a sensação de sermos invisíveis, seres humanos sem vontade e sem escolha, para os actuais líderes políticos, os Talibãs?
É por tudo isto que para mim a escolha da figura, da personalidade do ano, aquela figura que tanto me marcou e me fez pensar tantas vezes, só pode ser esta: a mulher afegã. Todas as mulheres que não têm nome, todas as desconhecidas que sofrem em silêncio no Afeganistão.
E a nós? A nós cabe-nos a tarefa mais fácil: a de manter as meninas e as mulheres afegãs nos nossos radares e, desta forma, tentar que não sejam esquecidas.
Boas entradas em 2022.