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A cada triunfo dos leões mais se acentuará a caminhada de Alvalade para o título e, por consequência, mais se atenua a possibilidade dos restantes candidatos se aproximarem do Sporting, deixando-os entregues a "outro" campeonato, o do (também) milionário segundo lugar.
Uma luta que, por sinal, pode vir a ser titânica, porque a diferença pontual entre Braga, FC Porto e Benfica deixa todas as hipóteses em aberto.
Conhecedor desta situação, o Sporting está condenado a centrar-se nele próprio, pois sabe que mais ninguém fará por ele o que só a ele compete. Entenda-se, ganhar. Somar três pontos está acima de tudo o resto, como ficou demonstrado de forma exemplar na partida com o Santa Clara: a exibição foi insípida, sem dúvida, mas o triunfo vibrante. O que, nos tempos que correm, é o que realmente lhe interessa, obviamente.
Tondela não será exceção. Ruben Amorim e os jogadores já perceberam que cada adversário que agora lhes surgir no caminho estará sempre a sonhar com a eventualidade de ser o primeiro a derrotar o líder e, dentro das possibilidades, tentará consegui-lo. Ou seja, o Sporting viverá sob um alerta permanente, mas também com a consciência de que cada barreira que passar o colocará cada vez mais na rota de uma conquista histórica.
Por aquilo que se vê, dificilmente se deixará abalar com adversidades dentro ou fora do terreno de jogo. E mesmo este episódio bizarro à volta do nível do treinador só contribuirá para uma maior coesão do grupo. O processo a Amorim não é bom nem é mau, é simplesmente uma tolice. Mas isso daria para outra conversa.
Quanto aos perseguidores do líder, creio que já todos se lembraram do que sucedeu a FC Porto e Benfica nos jogos equivalentes da primeira volta. Ambos perderam nas deslocações à Mata Real e ao Bessa, com evidente surpresa, algo que dragões e águias estão "proibidos" de repetir desta vez.
No caso do FC Porto vai ser importante aferir até que ponto a extraordinária epopeia de Turim pode influenciar esta fase final da temporada para os dragões. Do ponto de vista emocional, pelo menos para já, coloca os níveis de motivação no topo, pois não é qualquer um que consegue integrar o lote das oito melhores equipas da Europa. E muito menos uma equipa portuguesa, o que (re)confirma que o FC Porto continua a ser a única formação com perfil para os grandes combates da Champions.
Isto, só por si, coloca os dragões como claros favoritos perante o Paços, mas há que acautelar algumas coisas. Esta equipa de Pepa está a ser das mais surpreendentes no campeonato e, mesmo de forma discreta, não descarta a possibilidade de obter a qualificação para uma prova da UEFA.
Por outro lado, vamos ver que marcas deixou no FC Porto um jogo que teve tanto de histórico como de desgastante. Sérgio Conceição vai certamente reconfigurar o elenco, porque depois de 120 minutos - e mais de uma hora a jogar só com dez - há sempre consequências físicas em maior ou menor grau. Simplesmente, os dragões não podem desperdiçar pontos e o apelo à "resistência" vai novamente saltar para a primeira linha, jogue quem jogar.
O Benfica, por seu lado, terá sempre no desafio com o Boavista, no Bessa, o início da desaceleração que demonstrara no arranque do campeonato. Não apenas pelo desnível (uma derrota por 3-0 é sempre um pesadelo), mas porque a situação se agudizou com outro desaire logo a seguir (com o Braga, na Luz).
A equipa de Jorge Jesus começa agora a dar sinais de alguma recuperação. Portanto, o Benfica terá de encontrar soluções para contornar um obstáculo que poderá ser complicado, quanto mais não seja pelo facto do Boavista precisar desesperadamente de pontos para sobreviver. Tudo vai depender do grau de eficácia das águias, algo que, por exemplo, só se viu na segunda parte do desafio com o Belenenses SAD.
Mas há mais. Jesus sabe que ganhar ao Boavista, para lá de imperioso, é condição necessária para ter a equipa emocionalmente estável para o confronto seguinte em Braga. Esse duelo com os minhotos é, com toda a certeza, o primeiro momento crucial para a definição do assalto à entrada direta na Liga dos Campeões. Logo, se quer ir a Braga discutir cara a cara o assunto, o Benfica não pode antes atrasar-se mais do que já está.
E é aqui que chegamos a Carlos Carvalhal. O treinador dos arsenalistas também fez raciocínio idêntico e, por isso, vai apostar forte na deslocação a Famalicão. Terá igualmente de enfrentar um adversário que precisa de pontuar com dramática urgência e com um novo técnico no comando. É difícil prever o que Ivo Vieira introduzirá de novo - ou se teve tempo para isso -, mas o Braga terá se precaver.
Seja como for, se há equipa com ideia claras sobre o que faz e como deve fazê-lo é o Braga. Para lá de que se encontra numa fase afirmativa, o que reforça ainda mais a ambição. Com o Famalicão ou com o Benfica.