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O Natal foi sorridente para o Sporting, trouxe um presente especial para o FC Porto e uma deceção para o Benfica. Falta saber o que se segue ainda antes de encerrar o ano.
Desta vez, o presente de Natal do futebol português chamou-se Supertaça. Presume-se que uma vez sem exemplo, pois todos temos a esperança de um regresso à verdadeira normalidade no próximo ano, aquela que coloca o primeiro troféu da época em agosto e não dentro de uma temporada já em curso.
O FC Porto ganhou sem discussão, o Benfica confirmou algumas das suas debilidades e a dúvida que passa para a última jornada do ano é o modo como o desfecho de Aveiro vai refletir-se nos jogos que se seguem. É um facto que os confrontos entre estes dois rivais vão sempre para lá dos meros resultados.
A primeira questão tem a ver com os adversários, pois Portimonense e Vitória de Guimarães perseguem objetivos diferentes no campeonato, algo que as respetivas classificações ilustram. Os vimaranenses estão na chamada "zona europeia" da tabela, enquanto os algarvios ocupam o fundo da lista.
Em tese, poderá ser uma boa oportunidade para o Benfica utilizar esta partida como uma espécie de reabilitação emocional. Aliás, esta é a missão primordial de Jorge Jesus, pois um desaire no primeiro clássico das águias nesta época deixa sempre marcas, por muito que o técnico tenha relativizado a derrota, frisando que o alvo central do Benfica é o campeonato.
E é, só que exatamente por isso seria deveras complicado estender um mau resultado na Supertaça a outro mau resultado na Liga. Penso que não será preciso uma bola de cristal para perceber que Jesus vai mexer outra vez no onze, eventualmente nas peças do meio campo onde voltará a não ter Pizzi.
Como é fácil de concluir, o estado de espírito do FC Porto está no hemisfério oposto ao das águias. O que ajuda sempre, mas principalmente quando se fala de uma deslocação a Guimarães.
Nesta fase de João Henriques, ainda em busca do acerto de agulhas que o técnico pretende, o Vitória tem tido um comportamento "ondulante". Seja como for, o recente jogo na Luz, para a Taça da Liga, pode ter deixado algumas indicações preciosas sobre que opção estratégica seguirá a equipa minhota frente a outro dos grandes.
No entanto, uma coisa é certa. O FC Porto vai querer ditar o andamento do jogo e impor as suas ideias. E estas passam, antes do mais, pelos protagonistas que Sérgio Conceição entende serem fundamentais para o processo. Agora há Pepe de regresso, Sérgio Oliveira e Uribe na zona central, Otávio e Corona para tratarem do resto. Convenhamos que não é pouco.
Depois da Supertaça ficou claro que o atual FC Porto é melhor do que o atual Benfica. Logo, os dragões não têm outra alternativa que não seja continuarem a deixar essa marca, sob pena de subverterem aquilo que eles próprios construíram.
O Sporting passa o Natal na liderança, algo que, pelo menos do ponto de vista simbólico, tem um enorme peso para os leões que já não conseguiam este feito há quase duas décadas.
Mas o novo ano traz também uma cadência diferente para a equipa de Ruben Amorim, naquilo que constitui um teste suplementar ao qual ainda não tinha sido submetida. Afastada a hipótese de jogar a Liga Europa, o Sporting tem podido trabalhar com o tempo que deriva de só jogar uma vez por semana. Mas isto vai mudar.
No horizonte está um cenário semelhante ao que Benfica, FC Porto e Braga têm vivido, as tais partidas com intervalos de três ou quatro dias. Janeiro conduz os leões por um calendário carregado que inclui, repare-se, duelos precisamente com aqueles três concorrentes nas múltiplas competições nacionais em que participam. O grande desafio para Amorim, agora, é gerir a frescura física da equipa - com uma rotatividade que, provavelmente, vai ser adotada de forma diferente da que vigorou - e a transmissão de métodos de trabalho (e rotinas) com menos tempo para o fazer.
Por tudo isto, mais importante ainda é o desafio com o Belenenses SAD que encerrará o ano para a formação leonina. Até porque, olhando o que aí vem, este é possivelmente o adversário com menor grau de dificuldade no plano teórico. É que, para lá do "trio europeu", o Sporting terá ainda à sua espera Nacional e Marítimo, ambos na Madeira, Rio Ave e Boavista, este no Bessa. Portanto...
Os leões, por razões óbvias, partem como favoritos perante uma equipa que marca quase tão poucos golos como aqueles que sofre. Resta-lhes procurar o melhor antídoto para ultrapassar a barreira. E pensar que só lhes falta um jogo para segurarem o primeiro lugar até 2021.