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Acompanhei com interesse e alguma curiosidade as análises que foram e continuam a ser feitas a propósito dos acontecimentos desta sexta-feira 23 em Paris, onde um reformado já com provas dadas de que entretém o tempo a praticar tiro-ao-estrangeiro, investiu à pistola num bairro de maioria curda. Começando por aqui, é doloroso ver entrevistadores e entrevistados referirem-se aos curdos como uma etnia, quando são muito mais do que isso. São uma Nação, um povo sem território. "Respect", como se diz agora!
Depois, confundir um acto racista com uma conspiração de Erdogan por causa da adesão da Suécia e da Finlândia à NATO, é muito bom. Tão bom que se não fosse ser Natal, o tempo reservado às reportagens dos pais natais seria ocupado por mais pseudoanálises à "etnia curda", às ligações de um racista aos serviços de Ancara e a posição desta face ao alargamento da NATO. Ou seja, passaria tudo a oficial, tantas vezes as evidencias foram evidenciadas. Mais, passou na TV? Então é verdade, não há dúvidas!
Outro reflexo da sabedoria de quem nos explica estes epifenómenos, é insistirem em comparar Paris a Lisboa, França a Portugal! Quase tão grave como comparar Portugal a Espanha! Porque estes guetos podem surgir em Portugal e precisamos de os evitar, "porque em Paris há bairros onde a polícia não entra!" Há quem se sinta preparado em passar este tipo de atestados de incompetência!
O assassino, sem nome para os portugueses, mas de acordo com o sítio ladepeche.fr, chama-se William M. (69), tem todo um historial de actos semelhantes, pelos quais aliás já tinha sido condenado e referenciado enquanto racista (é o próprio que se assume enquanto tal). Tem também um historial de problemas psicológicos, pelo que no século passado, há 23 anos portanto, chamá-lo-íamos de maluco, diríamos que "fritou a pipoca", que "se passou". Como agora é ofensivo dizê-lo, é mais fácil cavalgar a teoria da conspiração. As audiências agradecem!
A cabala, a ter existido como a foram pintando, até está a beneficiar a comunidade curda, com a visibilidade que o evento lhe dá há 3 dias, a liberdade de se manifestarem, de destruírem e de gritarem "Erdogan assassino", coisa que num dia normal não podem fazer impunemente numa capital europeia!
Do que percebi dos eventos de sexta-feira 23, um reformado francês "gâté" (mimado), como aliás são todos os franceses, de nome William M., de 69 anos e em avaliação psicológica desde Dezembro de 2021,
por utilização violenta de armas de fogo (08.12.21), com premeditação e de carácter racista. Já em 2017, William M. fora condenado a 6 meses de prisão por posse de armas proibidas a qualquer civil. Em Junho último foi-lhe confirmada a sentença de 1 ano de cadeia, por acontecimentos no mesmo registo cometidos em 2016. O pai de William, com 90 anos, referiu-se ao filho como "silencioso e retraído", forma aliás como actuou no Centro Cultural Curdo do 10º bairro de Paris. Não gritou nenhuma palavra de ordem, de protesto, não declarou nada contra os curdos, apenas disparou e matou dois homens e uma mulher. Ah, porquê este Centro Cultural em particular? Muito provavelmente porque lhe ficaria em caminho, porque seria o mais próximo de casa e não por uma premeditação vinda de fora e com objectivo de meter medo a quem não entrega curdos a pedido turco.
Não se recorda de um racista português de Portugal (80) que baleou o Bruno Candé em Moscavide (25.07.20), sem motivo aparente? O mesmo se passou em Paris na passada sexta-feira, racismo puro sem filtros nem conspirações. Ponto final!
A Acontecer / A Acompanhar
- 1 a 7 de Janeiro, Bragança verá a "Festa dos Reis dos Caretos de Salsas". Programa:
- De 1 a 5 de Janeiro, pela calada da noite os caretos saem à rua;
- 06 de Janeiro, sexta-feira, Celebração da Festa dos Reis ou Festa da Epifania. 14h, Peditório para as Almas com o Grupo de Cantares de Antanho e os Caretos. 19h, arrematação das oferendas, selecção da máscara feita em madeira ou cortiço, considerada inédita, seguindo-se o Jantar Comunitário;
- 07 de Janeiro, sábado, 11h, Casa de Turismo de Salsas, apresentação do livro "Os Reis dos Caretos", do Professor António Tiza, seguido do workshop "Partilhar Memórias, Pensar o Futuro". 15h, início do desfile dos diversos grupos ibéricos pelas ruas da aldeia, com algumas surpresas. De seguida dá-se início a uma peça de teatro de rua, encenada pela Cooperativa Xambra. 17h, Queima do Ano Velho, dentro do qual também serão queimados os quatro elementos da natureza simbolizando o que de prejudicial aconteceu no Ano Velho, à natureza e populações;
- No decurso destas actividades também haverá venda de produtos regionais!
Raúl M. Braga Pires, Politólogo/Arabista, é autor do site www.maghreb-machrek.pt (em reparação) e escreve de acordo com a antiga ortografia.
