Corpo do artigo
Existe a expectativa de que a manifestação de amanhã dos professores seja a maior desde 2008, altura em que os docentes da escola pública protestavam contra a proposta de avaliação de desempenho defendida por Maria de Lurdes Rodrigues. A dimensão do protesto acabou por dar-lhes uma vitória que pagaram muito caro nos anos seguintes. Com governos do PSD e PS perderam anos de contagem para a progressão na carreira, exatamente uma das principais reivindicações dos atuais protestos. A luta dos professores é justa mas, sendo justa, não significa que tenham razão em todas as suas exigências. Escalões sem quotas e progressão sem verdadeira avaliação não é justo e, muito provavelmente, nunca vai acontecer. Os governos têm, no entanto, a obrigação de resolver em definitivo a questão da atratividade do exercício de numerosas profissões na Administração Pública, à cabeça a profissão de docente. Do primeiro ao último escalão, tem de ser possível viver em Lisboa.
TSF\audio\2023\02\noticias\10\10_fevereiro_2023_a_opiniao_de_paulo_baldaia
A luta dos professores servirá como motor de arranque para muitas outras lutas. A falta de habitação, a perda generalizada de poder de compra nas classes de mais baixos rendimentos, o aumento das desigualdades são razões mais do que suficientes para a radicalização da luta. Haver quem se admire com o crescimento de movimentos inorgânicos que procuram dar resposta a problemas que os partidos e os sindicatos tradicionais parece nem terem na agenda é que é motivo de admiração.
O populismo e o radicalismo político são também muitas vezes resultado de um certo desencontro das elites com a História. Podendo dar resposta a uma desestruturação em curso da sociedade, os que têm o poder de decisão, seja porque foram eleitos para o fazer, seja porque são donos do capital e das estruturas produtivas, preferem colocar-se entre a espada e a parede. Como os caminhos são estreitos, os que estão no lado dos desfavorecidos ficam na mesma situação. Cada um na sua parede, com uma espada pelo meio, é isto a radicalização. O povo só radicaliza, quando as elites já o fizeram.