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Daniel Oliveira defende que a República é a forma superior de governo, porque se baseia no ideal da igualdade de todos, mas que essa igualdade ainda não é uma realidade em Portugal, que diz ser um dos países mais desiguais da Europa.
No espaço de opinião que ocupa semanalmente na TSF, Daniel Oliveira comparou a República Portuguesa, onde a soberania "repousa no povo", com as formas de governo de outros países, como "Espanha, Holanda, Arábia Saudita ou Marrocos", onde os chefes de Estado são soberanos por "dever e direito de sangue", porque os seus antepassados detiveram o poder "simbólico ou real".
"Nós tanto podemos ter como Presidente o filho de um ex-ministro do Estado Novo como o filho de um gasolineiro", lembrou o jornalista.
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Ressalvando que "há repúblicas que são ditaduras e monarquias que são democracia", uma vez que "não é a forma de governo que define a decência de uma sociedade", Daniel Oliveira frisa que a forma de governo transporta sempre uma mensagem. E a mensagem republicana é, segundo o comentador, "a de recusa do privilégio de sangue, a de que todos nascemos livres e iguais em direitos e deveres".
"A República é a forma superior de governo", defende Daniel Oliveira. "Mas não chega, nunca chegou", acrescenta. Exemplo disso é o recente caso do ex-banqueiro João Rendeiro, que se encontra em parte incerta e recusa regressar a Portugal, depois de ter sido condenado pela Justiça portuguesa, que não lhe retirou o passaporte, apesar da condenação.
Se tentarmos imaginar como seria se este caso se passasse com um cidadão comum, rapidamente chegamos à conclusão de que "o cidadão comum não teria tais possibilidades de fuga, nem de arrastar indefinidamente um processo", nota o comentador. "Nunca poderia estar no lugar de um ex-banqueiro", que "tem consciência do seu privilégio e de como este lhe garante alguma impunidade", sustenta. "Esse privilégio não é dos políticos. É de quem sempre foi: de quem tem dinheiro."
Por este motivo, para Daniel Oliveira, a República pode ser "a forma superior de um governo, que aspira à igualdade de todos perante a lei", mas "isso não chega para mudar a realidade".
"Somos um dos países mais desiguais da Europa e um país desigual nunca poderá ser um país justo. Também perante os juízes não valemos todos o mesmo", conclui.
Texto: Rita Carvalho Pereira