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O Presidente chinês, Xi Jinping, visitou Moscovo. No habitual espaço de opinião TSF, Daniel Oliveira afirma que esta visita não só reforçou laços "que garantem combustível barato à China", como anunciou "que o mundo já não é unipolar (...) a China é a outra superpotência" e, por isso, não precisa "de mais do que precisaram todas as potências neocoloniais".
A visita do líder chinês à Rússia não serviu apenas para "mostrar o apoio cauteloso e condicional a quem complicou a vida ao capitalismo global, que a China planificada soube aproveitar melhor do que a Europa liberal e sem política económica e industrial", explica Daniel Oliveira, acrescentando que esta visita possibilitou, ainda, "uma razoável resistência económica da Rússia às sanções e um novo lugar para as empresas chinesas depois da debandada das empresas ocidentais".
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Reconhecendo a superioridade da potência chinesa, o cronista considera que esta "não disfarça os seus interesses com a propaganda de um projeto político, como faziam a União Soviética e os Estados Unidos". A China conquistou o mundo "sem nunca ter disparado um tiro".
Para Daniel Oliveira, "celebramos o facto de a Rússia ter falhado em todos os objetivos desta guerra. Uniu os ucranianos, reforçou a NATO e afastou qualquer hipótese de neutralidade do seu vizinho, ignorando que a potência que conta é outra e não pertence a espetador", sublinhando que a China irá "aproveitar este momento para liderar todos os que não tem qualquer razão para sofrer com as nossas guerras, assim como nunca sofremos com as suas".
"A demasiadas nações no mundo, dizem pouco os proclamados valores dos que deixam emigrantes afogarem-se no mediterrâneo, mandam refugiados para Ruanda e apoiaram e armaram tantas guerras fratricidas nos seus territórios. Se acreditamos que a Rússia está sozinha, sofremos do complexo de superioridade do locutor inglês que anunciava que com o nevoeiro do canal da mancha o continente europeu estava isolado", considera o jornalista.
Daniel Oliveira afirma que quando um país está em apuros, o mais fácil é seguir o dinheiro, como já "nós fizemos". Embora a Rússia não tenha muitos aliados, é certo que também não está sozinha, "pelo menos enquanto a China for a China. E na China há dinheiro".
Perante este "cenário difícil, que exige lideranças ponderadas e cautelosas, grande pragmatismo e sangue frio", o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandato de detenção para Vladimir Putin.
"Este mandato tem importância, porque determina a impossibilidade de um acordo de paz, quando e se for possível. Não estão em causa os crimes que o Presidente russo cometeu, desde a Chechênia passando pela Síria, que a carreira política de Putin deixou um rasto de sangue e horror. Está em causa querer ajustar contas antes do fim do jogo, fechando as portas a qualquer possibilidade negocial futura que não sabemos se virá a ser a única saída", explica o cronista.
É que Putin não se importa de afundar o mundo com ele.
Daniel Oliveira afirma que poderão dizer que tudo isto é simbólico, pois apenas os próprios russos poderão alguma vez prender Putin, "mas se é apenas simbólico, é mais estúpido ainda".
"Não sei estamos na mão de ingénuos bem-intencionados, de irresponsáveis impreparados ou de incendiários. Sei que perante um homem perigoso como Putin a coragem é necessária, mas não chega", acrescenta o cronista, acreditando que é necessária inteligência, uma vez que "Putin não se importa de afundar o mundo com ele".
*Texto por redação TSF